(por Jordan Augusto)
No passado era mais fácil, pois o mestre não era amigo de seu discípulo e sim professor. Este deveria sacrificar ao máximo o caminho de seu protegido para que se tornasse forte e imbatível. Nos dias atuais a filosofia da amizade e companheirismo em muito acrescentou na convivência Senpai-Kohai, mas por outro lado, no ocidente, em muito deteriorou o conceito de respeito e admiração. Muitos kohai fizeram desta confiança uma forma de escambo e objeto de vaidade em sua relação com os demais. Muitos foram os casos em que mestres decepcionados se afastaram de seus alunos a fim de que seu interior também não se deteriorasse. Este jogo de confiança acabou por cultivar frases de ênfase geralmente usadas em determinadas situações onde o vaidoso, numa suposta defesa dos mais frágeis, tomava a frente de qualquer situação certamente em troca de algo mais tarde, como: “deixa que eu falo... Que ali eu sei a melhor maneira...” É triste isso! Ver a confiança que deveria ser germinada e transformada em muitas outras coisas bonitas, transformada em objeto de comércio e bobagens. Isso entristece e endurece o coração de muitos que acreditam em um bom trabalho, numa relação onde o ser humano possa crescer e se aperfeiçoar.
E o que significa confiança? A maioria de nós confia em alguém ou em alguma coisa. Se praticastes uma coisa, se lestes livros, etc., isto vos dá uma certa confiança, porque haveis praticado, executado uma coisa muitas vezes, com confiança. Mas pode ser também uma forma de agressividade. Sabeis fazer uma coisa, e estais satisfeitos com vós mesmos. “Sei fazer isso, e você não sabe”. A confiança num nome, numa capacidade, é agressão, não achais? Tal confiança é por igual exploração, a qual, também, tem a afinidade com a admiração. Por conseqüência, a admiração e a confiança são coisas semelhantes. São as duas faces da mesma moeda.
Mas, há uma outra espécie de confiança, que nasce do autoconhecimento. Não devia propriamente chamar-se confiança, mas, à falta de melhor termo, chamemo-la “confiança”. Quando há o percebimento, quando a mente está cônscia do que pensa, do que sente e do que faz, não só nas camadas superficiais da consciência, mas ainda nas camadas mais profundas, quando estamos plenamente cônscios de tudo quanto se contém na consciência, vem então um sentimento de liberdade, de segurança, dado por esse conhecimento. Quando sabeis reconhecer uma serpente, vós estais livre dela, não é verdade? Quando sabeis que determinada coisa é venenosa, sentis uma segurança, uma liberdade, até então desconhecida. Há uma segurança, uma alegria extraordinária, uma esperança criadora, um sentimento de vitalidade, depois de explorarmos o nosso “ego”, e nada disso se baseia na crença. Depois de devassado o “ego”, depois que todos os seus artifícios e recessos são conhecidos da mente, está a mente, então assegurada do seu criador, e, por conseguinte, ela cessa de criar, e nesse cessar há criação.
Nada está escondido, apenas não vemos. Conta-se que um monge estava passando pela frente de um açougue e escutou o diálogo do freguês com o açougueiro. O freguês perguntou, “esta carne é fresca?” O açougueiro respondeu, “na minha loja nada há que não seja fresco, de boa qualidade”. Quando o monge escutou, “na minha loja é tudo bom, toda a carne é boa”, nesse instante atingiu a iluminação.
Neste mundo é tudo bom. Nada tem defeito. Por que então tantas dificuldades, tantos problemas entre nós? Porque a mente cria problemas, oculta a verdade. Cria o bem, o bom, o mau. Na verdade não existe o bem e o mal, isto é apenas uma dualidade, uma discriminação. É preciso penetrar a não-discriminação. Tudo está em seu lugar no mundo do Darma, do absoluto. De acordo com o zen, tanto na relação senpai-kohai, como nas relações inter-pessoais, nada falta. Nós, no entanto, fazemos a discriminação, "isso é bom, isso é ruim" Cada um constrói seu próprio sofrimento ao fazer essa discriminação. Você mesmo sofre com isso. Neste mundo está tudo perfeito, o problema é você mesmo. Aqui e agora você pode encontrar o absoluto, o eterno. Está tudo perfeito, nada há para se queixar.
Referência:
Conversas com Araki Sensei, Michie Hosokawa, Paulo Hideyoshi, Masa, sadao, Luiz yamada, Hidetaka Sensei. Textos: Galileu - Revista, Livros de Sociologia; Análises sobre a Psicologia Moderna e estudos sobre Freud, Jung , Melanie Klein;Grof; Textos de Krishnamurti
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