terça-feira, 5 de agosto de 2008

Qual a finalidade do kihon?


Muitos julgam-no enfadonho e desnecessário e ao fim de 3 meses já sabem a cartilha toda de cor - sempre o mesmo, qual é a ciência? Pois embora se apresente como um treino de base, a sua prática assume importância crescente em proporcionalidade ao desenvolvimento do praticante, acabando ele mesmo por se ir tornando mais complexo. Não será certamente “á toa” que nos estágios técnicos geralmente se confere grande importância ao mesmo. O nosso corpo deve, através de exercícios básicos, capacitar-se de argumentos válidos para desempenhar de um modo correto qualquer trabalho que lhe seja solicitado. É através dos exercícios de Kihon que se suprimem as mais elementares deficiências de movimentação e postura, enquanto simultaneamente começamos a entender a necessidade de coordenar o corpo, agindo em sintonia com a mente.

Praticar Karaté é experienciar um constante estado de observância interior e o Kihon obedece na íntegra a essa mesma premissa. Traduzido do japonês, a palavra Kihon significa “base”, apresentando-se assim como uma parte essencial do trabalho da maioria das Artes Marciais japoneses, não fugindo o Karaté a esse “regra”. O Kihon é a principal base, o trampolim para se alcançar um bom nível técnico. Para concretizar resultados, e por forma a que o desenvolvimento técnico e a atitude do praticante em relação a esta componente do treino sejam progressivas, há que treinar com o máximo de concentração, força e dedicação. O Kihon, quando executado de forma correta, é sem dúvida um fundação sólida para toda a aprendizagem futura.

O Kihon transporta e encerra em si caracteristicas essenciais para definir não só a qualidade do trabalho como outras que auxiliam o praticante a assimilar as particularidades do seu estilo, através da aprendizagem e execução sistemática de técnicas básicas, enquanto se movimenta e familiariza com andamentos, defesas e ataques. É um processo de desenvolvimento global, no qual toda a energia do indíviduo se encontra ao serviço da técnica, por mais simples que esta se apresente: mãos, pés, pernas, braços, ancas, cabeça, respiração, centro de gravidade, contracção muscular, velocidade,… todos estes elementos devem estar conjugados e em plena coordenação.

O treino de Kihon dota-nos de uma potência muito forte, reflexo da velocidade com que executamos os golpes. Por si só, a força muscular não permitirá que o sujeito vingue no Karaté. O poder do Kime resulta da concentração de força máxima no momento do impacto, a somar a uma postura própria, associada a uma série de elementos psicológicos e físicos que assentam principalmente no movimento / projecção das ancas. A repetição e o aperfeiçoamento ensinam-nos que a velocidade é mais importante que a massa. A velocidade da massa em movimento aumenta, proporcionalmente, à força desenvolvida no momento do impacto, razão pela qual nos ensinam a bater com velocidade máxima. Daí a importância de visualizar e apontar na direcção dos pontos vitais do adversário. Daí ser relevante diferenciar bem os níveis gedan, shudan e jodan. Mesmo ao executar técnicas “no vazio”, trabalham-se todos os grupos musculares e partes do corpo. Mesmo sem ter um alvo definido onde finalizar a técnica, aprendemos a executar as técnicas com todas as partes do nosso corpo, rejeitando que a onda de choque provocada pelo impacto torne a nós, forçando-a a penetrar e voltar ao adversário.

Kihon é o caminho que nos leva ao aperfeiçoamento de todos os movimentos, seja qual for a sua complexidade ou finalidade. Um karateca que tenha boas bases será por definição um bom executante de Kata, da mesma forma que se encontra capacitado para se revelar um bom praticante de kumite ou terá maior facilidade em trabalhar os bunkais, isto porque possui ingredientes ricos, para se desenvolver em qualquer área. Obviamente que a importância dada ao trabalho de Kihon varia consoante os estilos, as linhas, as escolas, os mestres…

Além de tudo isto e de muito mais, o Kihon é o primeiro degrau da nossa “luta” interior. A real dificuldade para o praticante é o seu orgulho e a ânsia natural de vencer. O seu treino demonstra-nos que o nosso verdadeiro inimigo reside dentro de nós, e não nos outros. Aqueles que escondem nas deficiências do seu carácter e técnica, a sua pouca determinação, vontade e espírito de entrega e sacrificio, acabam por ser derrotados sem se aperceberem o que os atingiu. Fartam-se de pressa, com a mesma velocidade com que se convencem já saber tudo.

Todos sabemos que a meta primordial no ataque do Karaté é vencer o adversário. Vencer rapidamente e com o menor esforço. Logo, este deverá ser certeiro e não mais do que um. É esta a diferença entre os ataques de Karaté – atemi - e o de outras lutas ou desportos de combate, e é essa a razão que nos obriga a treinar tanto um mesmo movimento. Da mesma forma que um futebolista treina pontapés livres, cantos ou grandes penalidades. O Kihon, tal com esta Arte Marcial, não é o principio nem final de nada, é meramente um meio para “melhorar”.

Todas as técnicas básicas do Karatê são praticadas principalmente através do Kihon, sejam os chutes, golpes e defesas. A base para um bom Kata e também para o Kumite está no Kihon. Através do Kihon é que desenvolvemos uma base forte e firme, além da potência, velocidade e força nos golpes.
O Kime (finalização), que resulta na concentração máxima de força de força no instante de impacto, além da forma muscular, é o fator que possibilita que a pessoa se sobressaia no karatê. Segundo estudos, o golpe de um Karateka bem treinado pode chegar a ter uma velocidade de 13 m/s e gera uma força equivalente a 700 kg.
no Kihon que é primeiramente treinada a movimentação em base com o movimento de quadris, essencial para um movimento bem feito. Observa-se que os quadris estão localizados aproximadamente no centro do corpo humano, e o movimento deles exerce um papel crucial na execução de vários tipos de técnicas do Karatê.
Além de uma fonte de potência, os quadris constituem a base de um físico estável, de uma forma correta e da manutenção de um bom equilíbrio. “No Karatê aconselha-se frequentemente a “golpear com auxílio os quadris”, “chutar com auxílio dos quadris” e a “bloquear com auxílio dos quadris”“. Após o treinamento sistemático de KIHON, KATA e KUMITE, entramos numa outra parte que chamamos de impacto direto ou TREINAMENTO DE MAKIWARA.
Makiwara é uma tábua de 1,30 m de altura, por 10 cm de largura e de uns 15 mm de espessura, enrolado com palha ou algo similar. O treinamento das mãos deve ser metódico. Alguns dos golpes de mão mais treinados são: soco de frente (GYAKU ZUKI), pancada com o lado da mão fechada (TETSUI), pancada com o cutelo da mão aberta (SHUTO UCHI) e a parte posterior do soco (URAKEN).
Após alguns anos de treinamento, exercitando seus golpes no KATA, KIHON e MAKIWARA, os lutadores de Karatê adquirem alta eficiência, não havendo necessidade de atingir pontos vitais, pois em qualquer parte do corpo que seus golpes acertam prejudicam, causando terríveis lesões ou até mesmo a morte.
A idéia que se tem do Karatê atual é que ele esta longe de ser o Karatê que existiu no passado, mas qualquer pessoa que treine Karatê pode tornar essa arte uma arte mortal como era antigamente na China ou em Okinawa. Os pés são treinados no SANDOBAKO (em Inglês: Sadbag), ou simplesmente um saco contendo areia e/ou serragem, além do SUNATAWARA, que consiste em feixes de bambus amarrados. Muitas pessoas acham que o treinamento é para se formarem calos nas mãos ou nos pés, mas não é só para isso.
As repetições, com atenção na postura correta, desenvolvem grupos musculares, juntamente com o corpo do praticante, tornando muito forte a sua pancada. Outro detalhe que não deve ser esquecido são os saltos, giros e esquivas que existem no Karatê, cuja finalidade pode ser de ataque ou fuga de algum perigo, que em alguns dojôs são treinados com pesos nas pernas.. Por último existe também o treinamento prênsil, que torna as mãos fortes como alicate. Em suma, o corpo todo daquele que pratica o Karatê torna-se uma arma. Este é o Karatê na parte física. Torne seu corpo cada vez mais rijo, mas a sua mente cada vez mais flexível.

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