Livro dedicado aos “esfarrapados do mundo”, mostra
a opressão contida na sociedade e no universo educativo, em
especial na educação/alfabetização de adultos. A opressão é
apresentada como problema crônico social, visto que as
camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam por
aceitar o que lhes é imposto, devido à falta de
conscientização, sem buscar realmente a chamada Pedagogia
da Libertação.
A libertação é um “parto” conforme afirma o autor,
pois a superação da opressão exige o abandono da
condição “servil”, que faz com que muitas pessoas simples
apenas obedeçam a ordens, sem, contudo questionar ou lutar
pela transformação da realidade, fato motivado
especialmente pelo medo.
A dicotomia encontrada neste universo vai justamente no
despertar da conscientização, onde as realidades são, em
sua essência, domesticadoras, ou seja, é cômodo para o
opressor que o oprimido continue em sua condição de
aceitação. Neste sentido o autor faz uso do pensamento de
Marx quando se refere à relação dialética subjetividade-
objetividade, o que implica a transformação no sentido
amplo – teoria e prática, conscientizar para transformar,
pois a opressão é uma forma sinistra de violência. Assim a
Pedagogia do Oprimido busca a restauração, animando-se da
generosidade autêntica, humanista e não “humanitarista”,
pois se propõe à construção de sujeitos críticos,
comprometidos com sua ação no mundo.
A educação exerce papel fundamental no processo de
libertação, pois é apresentada a concepção “bancária” como
instrumento de opressão. Nesta visão o aluno é visto como
sujeito que nada sabe, a educação é uma doação dos que
julgam ter conhecimento. O professor, nesse
processo, “deposita” o conteúdo na mente dos alunos, que a
recebem como forma de armazenamento, o que constitui o que
é chamado de alienação da ignorância, pois não há
criatividade, nem tampouco transformação e saber, existindo
aí a “cultura do silêncio”, isto porque o professor é o
detentor da palavra, criando no aluno a condição de sujeito
passivo que não participa do processo educativo.
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”,
esta famosa frase pareceu, a princípio, ter um efeito
bombástico entre os educadores porque denunciou toda
opressão contida na educação, em especial na concepção
bancária, que na sua essência torna possível a continuação
da condição opressora. O grande destaque para a superação
da situação é trabalhar a educação como prática de
liberdade, ao contrário da forma “bancária” que é prática
de dominação e produz o falso saber, ou seja, aquele
incompleto ou sem senso crítico. Assim é apontada a
educação problematizadora, onde a realidade é inserida no
contexto educativo, sendo valorizado o diálogo, a reflexão
e a criatividade, de modo a construir a
libertação.
O diálogo aparece no cenário como o grande
incentivador da educação mais humana e até revolucionária.
O educador antes “dono” da palavra passa a ouvir, pois “não
é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no
trabalho, na ação-reflexão”. Isto é justamente o que foi
chamado de mediatização pelo mundo, espaço para a
construção do profundo amor ao mundo e aos homens. Contudo
é preciso que também haja humildade e fé nos homens.
O diálogo começa na busca do conteúdo programático.
Para o educador-educando, dialógico, problematizador o
conteúdo não é uma doação ou uma imposição, mas a devolução
organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles
elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. É
proposto que o conteúdo programático seja construído a
partir de temas geradores, uma metodologia pautada no
universo do educando que requer a investigação, “o pensar
dos homens referido à realidade, seu atuar, sua práxis”,
enfatizando-se o trabalho em equipe de forma
interdisciplinar. Para a alfabetização (de adultos) o
destaque é feito através de palavras geradoras, já que o
objetivo é o letramento, porém de forma crítica e
conscientizadora.
A teoria antidialógica citada é a ideologia
opressora, a manipulação das massas e da cultura através da
comunicação, por isso a revolução deve acontecer através
desta pelo diálogo das massas. Uma das principais
características da ação antidialógica das lideranças é
dividir para manter a opressão, o que cria o mito de que a
opressão traz a harmonia.
Em contrapartida, é mostrada a teoria da ação
dialógica embasada na colaboração, organização e síntese
cultural, combatendo a manipulação através da liderança
revolucionária, tendo como compromisso a libertação das
massas oprimidas que são vistas como “mortos em vida”, onde
a vida é proibida de ser vida, isto devido às condições
precárias em que vivem as massas populares, convivendo com
injustiças, misérias e enfermidades, onde o regime as
obriga a manter a condição de opressão. Neste cenário é
necessário unir para libertar, conscientizando as pessoas
da ideologia opressora, motivando-as a transformar as
realidades a partir da união e da organização, instaurando
o aprendizado da pronúncia do mundo, onde o povo diz sua
palavra. Nesta teoria a organização não pode ser
autoritária, deve ser aprendida por se tratar de um momento
pedagógico em que a liderança e o povo fazem juntos o
aprendizado, buscando instaurar a transformação da
realidade que os mediatiza.
O que fica evidente é que o opressor precisa de uma
teoria para tornar possível a ação da opressão, deste modo
o oprimido também precisa da teoria para sua ação de
liberdade, que deve ser pautada principalmente na confiança
no povo e na fé nos homens, para que assim “seja menos
difícil amar”.
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