terça-feira, 10 de junho de 2008

O que é Karatê

Karaté é uma palavra de origem japonesa, formada por dois caracteres: “Kara” e “Té”, que significam respectivamente “vazio” e “mão”, por isso, “Karaté” é, nada mais nada menos que a Via do Karaté (ou a Via da Mãos Vazias), a que todo o praticante de Karaté se deve dedicar ao longo de toda a sua vida.

O Karaté é uma arte marcial originada a partir das técnicas de defesa sem armas de Okinawa e tem como base a filosofia do Budo japonês.
Através do trabalho árduo e de muita dedicação ele procura a formação do carácter da pessoa e o aprimoramento da sua personalidade.

Cada pessoa terá, certamente, objectivos diferentes ao optar pela prática do karaté. A cada pessoa deverá ser dada a oportunidade de atingir as suas metas, sejam elas tornar-se forte e saudável, obter autoconfiança e equilíbrio interior ou mesmo dominar técnicas de defesa pessoal. Contudo, o praticante não deve fugir do objectivo real da arte. Aquele que só pensa em si mesmo, e quiser dominar técnicas de Karaté somente para utilizá-las numa luta, não está qualificado para aprendê-lo, afinal, o Karaté não é somente a aquisição de certas habilidades defensivas, mas também o domínio da arte de ser um membro da sociedade bom e honesto. Integridade, humildade e autocontrole resultarão do correcto aproveitamento dos impulsos agressivos e dos instintos primários existentes em todos os indivíduos.

O objetivo do Karaté é a perfeição da mente e do corpo!

Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de geração em geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado directamente com crescimento, maturidade, com o indivíduo universal.

A Filosofia Budo:

A filosofia do Budo (“Bu” = Guerreiro + “Do” = Via, Caminho) traduz-se pela busca constante do aperfeiçoamento, autocontrole e na contribuição pessoal para a harmonização do meio onde se está inserido.

A famosa expressão do Mestre Funakoshi - "Karaté Ni Sente Nashi" (“Conter, controlar o espírito de agressão”) - explica claramente o objectivo do Karaté. O Karaté caracteriza-se por condutas de respeito e de etiqueta.

Esse propósito de "anti-violência" pode ser muito bem expresso através do seguinte ensinamento:
"Se o adversário é inferior a ti, então porquê lutar? Se o adversário é superior a ti, então porquê lutar? Se o adversário é igual a ti, compreenderá, o que tu compreendes... então não haverá luta. Honra não é orgulho, é consciência real do que se possui."


A filosofia do Budo sempre deu muita importância à percepção e à sensibilidade, uma vez que as técnicas que nela se baseiam, visam essencialmente:

I - Conquista da estabilidade emocional e da autoconfiança, através de um treino rigoroso e de uma vida disciplinada;
II - Desenvolvimento da intuição, no sentido de perceber o ataque do adversário antes mesmo do início do seu movimento e da capacidade de analisar o adversário, de forma a prevenir-se contra eventuais surpresas;
III - Formação de hábitos de saúde, como o uso da meditação Zen e a respiração com o diafragma.


Defesa pessoal:

O Karaté é um método eficiente de defesa pessoal, na qual braços e pernas são treinados sistematicamente, de forma a possibilitar ao lutador de Karaté defender-se de qualquer tipo inimigo ou agressão.

Porém, o praticante não se deve precipitar. É muito comum que o principiante de Karaté, notando os seus rápidos progressos, seja levado por uma onda de impetuosidade, sentindo a necessidade de por em prática os seus conhecimentos adquiridos. Esta ideia distorcida deve ser sanada a tempo para que não venha a afastá-lo do real objectivo da arte, até porque pode, em casos extremos, colocar a sua vida em risco.

A prática do Karaté é um caminho longo e requer anos de muita dedicação. A experiência mostrará que antecipar e evitar é uma atitude mais sábia do que o confronto físico em si.
Por isso, o treino do Karaté como defesa pessoal divide-se em três etapas:
- Percepção (captar a intenção do adversário);
- Reacção (decidir a atitude a ser tomada);
- Acção (execução)

Este tipo de treino permite ao praticante, numa situação de perigo, fazer uma real avaliação da situação, discernir o melhor modo de agir, e tomar uma atitude consciente.

O verdadeiro valor do Karaté não está em sobrepujar os outros pela força física. Nesta arte marcial não existe agressão na sua extensão, e sim nobreza de espírito, domínio da agressividade, modéstia e perseverança. Mas, quando for necessário, fazer a coragem de enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior.


Saúde:

Entende-se como "saúde" o “completo bem-estar físico, mental, espiritual e social do ser humano, e não apenas o estado de ausência de doenças" (definição segundo a O.M.S. – Organização Mundial de Saúde). O Karaté é tido como um vector de saúde, pois proporciona ao seu praticante:

1) Aptidão física total:
- força - resistência - razoável flexibilidade articular - sistema cardiovascular com bom nível de capacidade aeróbica

2) Adequação psicossocial:
- desenvolvimento moral - sensação de bem-estar - redução dos níveis de ansiedade - auto-estima - melhoria da imagem física de si mesmo - auto-conhecimento


Os benefícios de uma prática correcta:

Muitos são os benefícios que podem ser obtidos através de uma prática correcta do Karaté.
Aqui passamos a enumerar alguns deles:

- Manutenção da saúde e fortalecimento do físico;
- Estímulo à coragem para enfrentar e superar obstáculos;
- Respeito pelos outros, bons costumes em relação ao meio ambiente, equilíbrio, boa postura e respiração correcta, que são estimulados pelos rituais tradicionais;
- Incentivo ao aperfeiçoamento pessoal no sentido de tentar vencer os próprios limites, como os do medo, da desconfiança, da preguiça, da indecisão, etc.;
- Empenho e dedicação, exigindo o máximo do corpo e da mente, treinando com paciência e perseverança até fazer desses objectivos um hábito;
- Estabilidade emocional. A situação de luta colabora eficazmente para sua conquista. Qualquer descontrole de emoções tem imediata repercussão no rendimento e na performance. Por isso é preciso dedicar-se com empenho, para conseguir a necessária serenidade.



A competição no Karaté:

As competições não são o objectivo final do Karaté, são sim um meio para que o praticante faça sua auto-avaliação técnica e/ou emocional. Não importa se o indivíduo ganha ou perde, o relevante é o seu crescimento como praticante e como pessoa.
Com base nos princípios do Budo, o que se analisa (e o que se exige) numa competição de Karaté é a eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contacto dos golpes. Isso exige um domínio físico (postura, contracção, respiração) e mental por parte do praticante.
Perder-se na beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição.

Os benefícios da prática do Karaté


Benefícios:

- Proporciona grande condicionamento cardiovascular e muscular (não há ganho de massa muscular, mas de força e definição);- Desenvolve a coordenação motora e a mobilidade das articulações;- Exige a aprendizagem de estratégias por parte do praticante;- Incentiva o autocontrole;- Pode ser aplicado à autodefesa;
- Permite o aperfeiçoamento do carácter;
- Promove o equilíbrio emocional;
- Proporciona um bem-estar físico-espiritual, que é a fonte de toda a saúde e vida na sociedade;
- Etc. ...

O benefício último de toda esta arte é o equilíbrio da mente e o bem-estar espiritual, fonte transcendente de toda vida e saúde. Os antigos mestres chineses já haviam percebido que a fonte última de todo Chi é a mente e com isso aperfeiçoaram o método interno das artes marciais para evitar toda distracção colocando a atenção nos movimentos, sensações da energia e ritmo, adicionando o espírito na vivificação da experiência como num cenário real de vida e morte. Com isso, consegue-se a paz interior, dissipa-se a agitação mental, fonte de toda ansiedade, agressividade, medo e violência, adquire-se sabedoria e humildade. Kenwa Mabuni sintetizou todo este princípio nesta frase: "Aquele que dominou o karaté compreende a importância transcendente de cooperar com o infinito ao invés de continuar a existir ante o inevitável".

Riscos:

Os riscos são proporcionais à prudência do professor, ou seja, com um professor cuidadoso, o aluno corre poucos riscos de se magoar, isto é, se respeitar sempre as indicações do professor.


Quem deve praticar

O verdadeiro karaté pode ser praticado por qualquer pessoa, homem ou mulher, crianças e adultos de todas as idades. O método pode ser adaptado para as particularidades de cada pessoa porque o karaté não é (e não deveria) ser um desporto de competição ou atletismo, mas um método de autodefesa que também promove a saúde, tendo sido com este espírito que ele foi praticado em Okinawa, a sua terra natal.

Fontes de Pesquisa:
www.karatebrasil.com.br/bene.html
www.terrevista.pt/Meco/4075/pag05.htm

As Mulheres nas Artes Marciais


(Texto por: Sensei Silvio Ricardo Rodrigues)

" O século XX foi marcado por grandes transformações, e uma das mais notáveis foi, certamente, o reconhecimento nacional e internacional do trabalho da mulher e, principalmente, da garantia dos seus direitos. "
(Dra. Carlinda de Almeida)

"Isso é coisa de Homem!", ouve-se dizer muitas vezes. E o que é pior: dito por Mulheres!
Esse é um pensamento digno de mulheres:
1 - Acomodadas
2 - Mulheres com fortes sentimentos de dependência
3 - Mulheres sem qualquer informação sobre arte marcial.

"Isso é coisa de Homem!"
Ouvindo isto, até parece que a defesa pessoal é uma tarefa apenas para homens.
Como se somente o homem fosse responsável por defender a honra, os bens materiais, a sua própria vida e ainda a vida delas.
Desde o seu início que as Artes Marciais foram criadas e desenvolvidas para aumentar a capacidade de reacção (defesa e contra ataque) das pessoas fisicamente menos favorecidas em termos de estatura, peso corporal e massa muscular.
Basta observar a história do Karaté, Judo, Taekwondo, Aikido, e observaremos que os grandes mestres precursores dessas artes, eram pessoas fisicamente "miúdas", e que muitos desses grandes mestres, quando crianças, tinham inclusive, uma saúde débil, necessitando sempre de cuidados especiais dos seus pais.
Portanto, a mulher, naturalmente menos musculosa e com menos força física que o homem, ao praticar defesa pessoal vai começar a sentir-se muito mais à vontade sabendo que todos aqueles fundamentos e exercícios extenuantes das artes marciais foram desenvolvidos também para ela.
Por exemplo: a arte marcial Karaté, que é uma arte que aproveita a técnica para compensar a força física, é especialmente adequada como meio de autodefesa feminina, embora não seja essa a razão principal pela qual muitas mulheres a praticam.
A maior contribuição das artes marciais para com os seus praticantes, é capacitá-los para perceber o perigo. Por isso, através de uma prática regular e assídua, uma mulher pode aprender a "sentir" o perigo nos gestos, no modo de caminhar, ou no simples olhar de uma pessoa que se aproxima.

Gijutsu Yori Shinjutsu
(O espirito, é mais importante que a técnica)

A intuição pressente o perigo e evita o combate, já dizia Gishin Funakoshi, criador do Karaté Shotokan.
Funakoshi queria dizer com isso, que, percebendo o perigo é mais fácil evitar situações de conflito.
Mas... atenção: se o conflito for realmente necessário e inevitável, então ela deve ser capaz de fazer vibrar dentro de si a energia suficiente para enfrentar quantos adversários for necessário.
Só nesse momento é que a habilidade física deve entrar em acção. Cada movimento deve ser executado como se sua própria vida dependesse disso (e geralmente depende).
Mas para que se possa atingir a perfeição e eficácia, não basta apenas o treino físico. É preciso estudar, observar e aplicar as estratégias, entender os mandamentos marciais e estudar o Bushido (código de ética dos antigos guerreiros samurais).
Afinal, é quase impossível a qualquer praticante marcial, seja homem ou mulher, incorporar os mandamentos marciais, se não ler sobre os samurais e entender um pouco os costumes desses notáveis guerreiros do Japão Feudal.
Cabe à mulher praticante, adaptar a arte às suas características pessoais: idade, peso, condição física, etc.
É deste trabalho de adaptação que nasce a sensação de bem-estar e harmonia interior que caracterizam as artes marciais.
O que as artes marciais pretendem é que cada praticante, seja homem ou mulher, descubra as suas forças e fraquezas e as utilizem da melhor maneira.
Muitas vezes são as próprias mulheres que se discriminam e subestimam pensando que não devem praticar e aprender uma arte marcial ou autodefesa, achando que isto as poderia tornar menos femininas. Nada poderia estar mais errado!
No Japão feudal, as mulheres dos guerreiros samurais praticavam lutas.
Para quê?
Para defenderem os seus lares, enquanto os maridos iam para os campos de batalha.
Portanto, mulheres... À LUTA !!! Já é tempo de fazer alguns mitos cair por terra.
Lembrem-se: o único verdadeiro obstáculo que existe somos nós mesmos.


Fontes de Pesquisa:
www.karatebarretos.com.br

As Crianças nas Artes Marciais


"Primeiro, dê aos seus filhos raízes. Mais tarde, asas."


O Karaté na educação e formação da criança:

No mundo de hoje, valores como disciplina, respeito e companheirismo são muitas vezes deixados de lado. Pai e mãe frequentemente trabalham e, por isso, muitas vezes não têm condições para ajudar a construir estes valores na criança, uma vez que estão muito pouco tempo em contacto com os filhos que, normalmente, passam seus dias em frente de uma televisão e/ou em contacto com companhias inadequadas. Além disso, as escolas, em geral, dão prioridade ao aspecto intelectual, pondo menos ênfase nos fundamentos da educação moral, cujos ensinamentos estão voltados para o comportamento disciplinar e social.

A prática do Karaté sob a orientação de instrutores qualificados trará benefícios inestimáveis para a criança, pois se ela for bem orientada e motivada, será um grande passo para se evitar o aparecimento de certos vícios (como o uso de drogas, por exemplo), nocivos à saúde.

Nesse sentido, podemos dizer que a prática correcta do Karaté auxilia enormemente na educação, formação e desenvolvimento da criança. Ela aprende a respeitar, prestar atenção e a se relacionar com os outros. Relativamente ao aspecto físico, ela estará sempre a exercitar-se, o que lhe proporcionara um melhor desenvolvimento corporal, contribuindo para uma vida saudável em todos os aspectos.

Benefícios morais da prática do Karaté:
- Disciplina
- Respeito
- Auto confiança
- Companheirismo
- Coragem

O estímulo à coragem para enfrentar obstáculos, é parte dos ensinamentos do Karaté.
A coragem nada mais é do que a energia moral que temos diante de situações difíceis ou de aflição.

Já dizia Masutatsu Oyama, um dos grandes Mestres de Karaté:
"Perder dinheiro é perder pouco, perder confiança é perder muito, mas perder a coragem é perder tudo, porque se perderá a si mesmo.
Portanto, mantenha a coragem como o bem mais precioso da vida."


Benefícios físicos imediatos para a criança:

1 - MANUTENÇÃO DA SAÚDE E FORTALECIMENTO FÍSICO - É inegável a contribuição que a pratica física do Karaté proporciona aos praticantes, principalmente para a criança que está em fase de crescimento e desenvolvimento. Correcção da postura corporal e agilidade física é um dos primeiros benefícios que os pais percebem em seus filhos.

2 - COORDENAÇÃO MOTORA - Executando os exercícios de Karaté conhecidos como KIHONS, exercita-se de forma natural e progressiva toda a estrutura física necessária e fundamental, pois trabalha-se os membros superiores e inferiores, lados direito e esquerdo simultaneamente e consequentemente activando o lado direito e esquerdo do cérebro.

3 - RELAXAMENTO - Tendo em vista a ampla variedade de exercícios anaeróbios e aeróbios durante o treino, todo o sistema muscular é trabalhado em sincronia. Existe um trabalho de contracção e descontracção muscular, que, juntamente com o devido ritmo de trabalho, proporciona uma sensação de relaxamento e bem-estar no fim da cada aula.

Note-se que Instrutores, Professores e Mestres de karaté, não substituem os Pais, e também não é essa a nossa intenção.
Penso eu, que todos devemos utilizar a filosofia marcial para ajudar a construir um cidadão melhor .

" A Educação de uma criança deveria começar antes do seu nascimento "


Fontes de Pesquisa:
www.karatebarretos.com.br

Aspectos Técnicos


" Quando o corpo cansa, ele simplesmente relaxa e os movimentos nãosaem com a mesma força e velocidade. Mas ele obedece a ordem mental. É nadeterminação em continuar fazendo, que reside o desafio "

Actualmente, o treino do Karaté é sistematizado e dividido essencialmente em duas componentes: Kihon e Kumité (combates).

Kihon é a prática de técnicas fundamentais: bases, defesas, socos, pontapés.
As técnicas básicas do karaté são passadas principalmente através do Kihon.
É no Kihon que o karateca vai ganhar uma base forte e firme e também velocidade e força nos seus pés.
Através do Kihon, o karateca consegue atingir uma potência muito forte, reflexos e rapidez nos deslocamentos.
Mas só a força muscular não será o suficiente para que alguém sobressaia nas artes marciais, o poder do kime (finalização) é essencial e resulta da concentração de força máxima no momento do impacto.
Um golpe de um karateca bem treinado, pode chegar a ter uma velocidade de 13 metros por segundo e gerar uma força equivalente a 700 kg.
No Kihon também são treinadas movimentações de base com movimentos dos quadris (anca), essenciais à execução de qualquer movimento bem feito.
Os quadris estão localizados aproximadamente no centro do corpo humano, e o movimento deles exerce um papel crucial na execução de vários tipos de técnicas do Karaté.
Além de uma fonte de potência, os quadris constituem a base de um espírito estável, de uma forma correcta e da manutenção de um bom equilíbrio.
No Karaté recomenda-se "golpear com os quadris", "a pontapear com os quadris" e a "bloquear com os quadris".

Kumité é o combate propriamente dito. No kumité pode-se aplicar, com a ajuda de um colega, as técnicas praticadas anteriormente com o treino de Kihon.

Fontes de Pesquisa:
www.karatebarretos.com.br

História do Karaté


O Karaté é, essencialmente, uma relação directa entre tempo e distância, pois indica precisamente a plástica que deslumbra com os seus movimentos de precisão e beleza.

A origem do Karaté esconde-se nos segredos do passado. Embora exista uma grande quantidade de estilos “Ryu” do Karaté, a sua história é única, pois parte de um ponto comum, divergindo muito pouco de estilo para estilo, tendo sido transmitida de Mestre para aluno, ao longo do decorrer dos séculos.

Há aproximadamente 5.000 anos, viveu na Índia um rico príncipe, que desenvolveu uma das primeiras versões de autodefesa sem armas. Observou os movimentos dos animais nas florestas e estudou cuidadosamente os seus métodos de defesa. Notou as acções usadas pelo tigre para matar a sua presa com sucesso, observou os movimentos das asas e pés dos pássaros.

O príncipe aplicou então as técnicas de ataque dos animais ao corpo humano e descobriu, assim, que muitas delas podiam ser empregues com sucesso. Experimentou-as nos seus escravos, para assim descobrir os pontos vulneráveis do corpo humano. A história conta que sacrificou mais de 100 escravos. Enfiava agulhas compridas nos seus corpos até que as picadas resultassem na morte dos mesmos. Com esta experiência cruel, obteve o tão procurado sucesso.

Depois de ter estudado, sistematizado e padronizado algumas outras técnicas, esse método de autodefesa foi ensinado aos monges que peregrinavam pela Índia e pela China.

Esses monges, praticantes do Budismo Zen, chamados de I-Chin-Sutra, acreditavam que, a prática de exercícios físicos ajudaria na salvação da alma e contribuiria para alcançarem a Iluminação. Entre outros, destaca-se em particular o monge Bodhidharma (também conhecido por Daruma no Japão), considerado o 28º patriarca do Budismo Zen. Considerações essa que provêm de duas fontes: uma é o Tao Hsuan, compilado no começo da dinastia T’ang em 654 d.C., e a outra é o registro da Transmissão da Lâmpada em 1004 também d.C..

Quando chegou à China, através das suas peregrinações, esteve vários anos no Mosteiro de Shaolin, ensinando a teologia budista. Também lhes transmitiu os dezoito movimentos básicos, que mais tarde deram origem ao Boxe Chinês; juntamente com estes ensinamentos, ensinou-lhes ainda o seu “Varjeramushi”, que em sânscrito significa “Soco Real”.

O Mosteiro de Shaolin situa-se na China, na província de Honan. Como nessa época o país vivia um período de conflitos internos, o mosteiro foi invadido por Manchus, logo após a retirada desse monge.

Com isso, o mosteiro foi praticamente destruído e muito dos monges morreram nos combates. Os que conseguiram fugir, desapareceram temporariamente nas montanhas ou continuaram a fugir para longe dos conflitos.

Dos ensinamentos de Bodhidharma contidos no Ekkin-Kyu, surgiu, após o fim dos conflitos, o Shaolin-Su-Kempo (Shorin-Ji-Kempo).

Por volta de 1371, o intenso comércio entre a China, Coreia e os países do sudeste asiático, como a Tailândia, Java, Filipinas, Sumatra e Malásia, dava à ilha de Okinawa uma supremacia no arquipélago de Ryu-Kyu.

Essa ilha, situada no lado ocidental do Pacífico, conhecida como a “Corda no Oceano”, fica a cerca de 600 km ao Sul do Japão, 600 km a Norte da Formosa e 700 km a Leste da China. Era, sem dúvida nenhuma, um ponto estratégico.

Como consequência desse comércio, houve também, inevitavelmente, um intercâmbio cultural.

Ao longo da sua história, Okinawa foi palco de diversos conflitos e inúmeras invasões; consequentemente, o assolamento do seu povo foi estarrecedor. Quando a ilha foi dominada pelo Japão, já existia então o Okinawa-Té, que havia sido desenvolvido pelos aldeãos, e que era originário do Kempo (Shaolin-Su-Kempo) vindo da China, assim como do Pa-Kua e Tai-Chi.

Em 1427, a ilha de Okinawa era dominada pelo Rei de Chuzan – Sho Hashi, tendo em seguida, por volta de 1670, ficado sob o domínio do estado de Satsuma.

O Karaté assumiu então o seu papel em três localidades distintas: na capital, Shuri, com o nome de “Shuri-Té”; na cidade portuária de Tomari, com o nome de “Tomari-Té”; e na cidade comercial de Naha, com o nome de “Naha-Té”.

As regiões de Shuri-Té e Tomari-Té deram origem aos seguintes estilos de Karaté: Shorin-Ryu, Shoto-Kan e Wado-Ryu. O Naha-Té, ao estilo Goju-Ryu, etc.

Essa foi uma época de ouro, na qual surgiram nomes como: Sokon Matsumura, Anko Itossu, Ioshimine, Tawata, Kiyuna, Kawas; mais tarde apareceram ainda: Gichin Funakoshi, Chibana, Yabu, Hanashiro, Tokuda, Mabuni, Gussukuma, Yamakawa, Miyagi, Otsuka, Kenywa, Siwa, entre outros.
Em 1902, o Mestre Gichin Funakoshi e alguns dos seus alunos deram a primeira exibição pública e formal para o Comissário das Escolas da Prefecture Kagoshima do Japão, Ozawa Ahintaro, que ficou bastante impressionado pela bela arte.

Entre 1916 e 1917, Gichin Funakoshi foi convidado, como representante da Prefecture Okinawa, para demonstrar a sua arte no Butokuden – centro de actividades marciais.

Devido à guerra com a China, o povo Japonês não aceitava nada que fosse representativo da cultura chinesa. Ora, esta arte, que ainda não possuía um nome definido, era conhecida como “Tode” , ou seja “Mãos Chinesas”. Os seus praticantes treinavam-na às escondidas, para que não fossem descobertos e, consequentemente, torturados para que delatassem os nomes dos seus companheiros.

Por isso, para se ser admitido num desses grupos, teria de se ser apresentado por um dos membros integrantes dos “karatecas”; mesmo assim, eram ainda submetidos a rigorosas provas, para assim mostrarem coragem, resistência física e espiritual e a suportarem flagelos, caso fossem apanhados pelos soldados.

No início da Primavera de 1922, foi então ao Japão, a pedido do Ministro da Educação, para demonstrar a sua arte na 1ª Exibição Nacional Atlética de Tóquio.

Gichin Funakoshi, fora escolhido pelos seus companheiros por ser um dos mais antigos praticantes do Okinawa-Té e, para sua felicidade, os seus primeiros mestres ainda se encontravam vivos, Azato e Itossu.

Para além de tudo isto, Funakoshi era também o mais culto, instruído e tinha a palavra fluente, falava correctamente o idioma japonês e estava familiarizado com os seus costumes, condições que os outros Mestres de Okinawa não possuíam. Era aberto e devotado ao conceito de que o Karaté deveria ser desenvolvido como método de autodisciplina, melhoria da saúde e desenvolvimento do carácter.

Com esta abertura, o Karaté surge no Japão definitivamente, e os restantes Mestres tiveram a oportunidade de mostrar o seu trabalho e assim legar-nos o Karaté-Do, que hoje praticámos.

Como o Okinawa-Té (Mãos de Okinawa) tinha uma influência acentuada da cultura chinesa, tanto até que o seu nome anterior era Tode (Mãos Chinasa) que tinha fundamento na dinastia Tang da China, o Mestre Gichin Funakoshi idealizou então, o nome “Karaté”. Mesmo assim, teve de modificar o kanji “Kara”, que significa “vazio”, fundamentando-se na filosofia Zen. Por volta de 1935, escreveu o livro “Karaté-Do Kyohan”.

O estilo Shotakan apareceu, em virtude de alguns alunos do grande Mestre Funakoshi terem fundado o primeiro “dojo” independente. Em 1945, esse dojo foi destruído na Segunda Grande Guerra e muitos dos seus alunos foram mortos. Após o final da guerra, com o que restou, fundou-se em 1949 o Nihon Karaté Kyokai. O comando geral fica então nas mãos do aluno mais velho, Masatoshi Nakayama e o Mestre Hidetaka Nishiyama fica como chefe do Comité de Instrução e Graduação.

O estilo Shorin-Ryu deve homenagem ao grande Mestre Itossu Anku, que foi mais tarde dirigido pelo Mestre Chibana e actualmente o seu dirigente internacional é o Mestre Katsuya Miyahira.

O estilo Goju-Ryu reverencia, por sua vez, o Mestre Chojun Miyagi. O representante oficial internacionalmente é o grande Mestre Gogen Yamaguchi, também conhecido com “o gato”.

Do estilo Shito-Ryu, dá-se como fundador o Mestre Mabuni.

O estilo Wado-Ryu, criado por H. Otsuka, teve a sua solidez na abertura da sua primeira escola em 1911, com o nome de Wado-Ryu Karaté Jitsu, e uma escola com o nome de Wado-Ryu Jitsu Kempo.

Uma outra contribuição dada por Gichin Funakoshi, foi a criação e agregação da partícula “Do” (caminho espiritual, da sinceridade, da harmonia, etc.), concretizando assim os objectivos do Karaté-Do.

Dentre estes grandes adventos, o Karaté-Do teve algumas transformações, dando assim aos praticantes a oportunidade de o ter como desporto competitivo. Os “kata” seriam executados sem armas, instituir-se-iam regulamentos para o “Shiai-kumité” (luta de competição). O primeiro campeonato realizado pela All Japan Karaté-Do, foi em 1957, aproximadamente dois meses depois da morte de Gichin Funakoshi.



Fontes de Pesquisa:
SOARES, JOSÉ GRÁCIO GOMES (1998). Teoria e Prática do Karatê-Dô Wado-Ryu, São Paulo: Ícone

Bodhidharma


Bodhidharma foi o 28º patriarca da Budismo Zen. O nosso conhecimento da vida deste monge provém de duas fontes: uma é o documento mais primitivo sobre ele, o Tao Hsuan (biografias dos altos sacerdotes, compiladas no começo da dinastia T’ang em 654 da nossa era); a outra fonte é o registro da Transmissão da Lâmpada em 1004, também da nossa era, compilada por Tao Yan no começo da dinastia Sung.

Bodhidharma, o monge da lei, foi o terceiro filho de um grande rei brahman da Índia. Como a sua ambição era dominar a doutrina da Mahayana, abandonou as vestes brancas de leigo e começou a usar o manto negro monástico, desejando cultivar as sementes da santidade. Praticou a contemplação e a tranquilidade; soube bem qual era o significado dos assuntos mundanos.

Era tranquilo por dentro e por fora. Durante nove anos, o mestre Bodhidharma esteve no mosteiro de Shaolin, ensinando a teologia budista. Percebendo que os monges não suportavam a rigorosa disciplina com longas práticas de meditação e estudo, resolveu transmitir-lhes os dezoito movimentos básicos para a conservação da energia e restauração da saúde, dos quais, ao fim de vários anos, surgiram os 365 estilos diferentes do Boxe Chinês, chamado Boxe do Mosteiro de Shaolin.

Ao fim de vários anos de contínuos ensinamentos, desejou voltar ao seu país de origem. Convocou os seus discípulos e disse:
- “Chegou o tempo da minha partida e quero ver quais são as vossas conquistas”.
- “Segundo o meu parecer”, disse Tao Fu, “a verdade está acima da afirmação e da negação, pois este é o sentido no qual se move”.
- “Obtiveste a minha pele”, disse Daruma.
Em seguida, aproximou-se do monge Tsung Ch’hi que disse:
- “Como eu entendo, parece-se com a visão de Amanda a respeito da terra de Akshobhya. Vai-se uma vez e jamais novamente”.
- “Obtiveste a minha carne”, disse Daruma.
Tao Yu foi outro discípulo que expôs a sua opinião:
- “Os quatro elementos estão vazios e os cinco skandas não existem segundo o meu parecer, não há coisa alguma captável como real”.
- “Obtiveste as minhas entranhas”, disse Daruma.
Por último, Hui-K’ei, inclinando-se reverentemente diante do mestre , manteve-se em pé, no seu lugar, sem nada dizer.
Então, Daruma disse:
- “Obtiveste a minha medula”.

O mistério envolve o fim da vida de Bodhidharma na China; não se sabe como, quando e onde desapareceu da terra. Porém, tanto na China como no Japão e na Índia, concordam que era muito velho, superando os 150 anos de idade, segundo Tao Hsuan.

Alguns citam Bodhidharma como fundador do Karaté. Conhecido como Daruma no idioma Japonês, foi o fundador do Budismo da Contemplação, mais conhecido como Budismo Zen. Pensa-se que foi quando pregava a sua doutrina no Mosteiro de Shaolin, precisamente na província de Honan na China, que nasceu o Zen, bem como também o Shaolin Su Kempo. Ensinava o que pensava ser o ideal para a saúde, e dizia ser a união do corpo com a alma algo indivisível, para chegarmos à verdade e à paz interior.

Fontes de Pesquisa:
SOARES, JOSÉ GRÁCIO GOMES (1998). Teoria e Prática do Karatê-Dô Wado-Ryu, São Paulo: Ícone

Virtudes essenciais a qualquer praticante de Artes Marciais


Honra (Meiyo)

É a qualidade essencial. Ninguém pode pretender ser Budoka (guerreiro no sentido nobre da expressão) se não tiver uma postura honorífica. É da honra que partem todas as outras qualidades. É ter um código moral e um ideal, de maneira a ter sempre um comportamento digno e respeitável.


Fidelidade (Chijitsu)

Não pode existir honra sem fidelidade e lealdade em relação a certos ideais e para quem os partilha. Ela simboliza a necessidade de cumprir as promessas.


Sinceridade (Seuitsu)

A fidelidade necessita de sinceridade nas palavras e nos actos. A mentira arrasta a desconfiança que é a origem de todas as separações. Nas Artes Marciais, a saudação é a expressão dessa sinceridade, é o sinal daquele que não esconde os seus sentimentos, pensamentos, daquele que sabe ser autêntico.


Coragem (Yuuki ou Yuukan)

A força da alma que permite enfrentar o sofrimento chama-se coragem. É essa coragem que nos leva a fazer respeitar o que aos nossos olhos nos parece justo, e que apesar de medo e receios nos permite enfrentar os obstáculos.


Bondade (Shintetsu)

A bondade é um sinal de coragem e que mostra um grande sentido de humanidade. Ela leva-nos a ser atentos para com o próximo e ao que nos rodeia, a ser respeitoso para com a vida.

Humildade (Ken)

Saber ser humilde, isento de orgulho e vaidade, sem fingir, são garantias de modéstia.


Verticalidade (Tadashi ou Sei)

Seguir a linha do dever e nunca mais se desviar. Lealdade, honestidade e sinceridade são os pilares dessa verticalidade.


Respeito (Soncho)

A verticalidade dá origem ao respeito para com o próximo. A gentileza é a expressão desse respeito para com o próximo quais quer que sejam as suas qualidades, fraquezas ou posição social. Saber tratar as pessoas e as coisas com decência e respeitar o sagrado é o primeiro dever de um Budoka.


Controlo (Seigyo)

Qualidade essencial para todo o cinto negro. Representa a possibilidade de dominar os nossos sentimentos, impulsos e controlar o nosso instinto. É um dos principais objectivos da prática das Artes Marciais porque condiciona toda a nossa eficácia.

Fontes de Pesquisa:
FERNANDO, ANTÓNIO (2000). Karate Kyokushinkai – European Championships – Portugal 2000, Espanha: Grafol S. A. (livro promocional)

Graduações


"O homem faz a técnica, e não o contrário.
É o nível técnico do praticante que valoriza a sua faixa "

As artes marciais provenientes do Japão e Okinawa, apresentam uma variedade de títulos e classes de graduações. O sistema actual de graduação por cintos coloridos é o mais aceite; Antes disso, muitos métodos distintos eram usados para marcar os vários níveis dos praticantes. Alguns sistemas, recorriam a três tipos de certificados para seus membros:
1-SHODAN- significando que se havia adquirido o status de principiante.
2-TIUDAN- significava a obtenção de um nível médio de prática. Isso significava que o indivíduo estava seriamente comprometido com a sua aprendizagem, escola e mestre.
3-JODAN- A graduação mais alta. Significava o ingresso no OKUDEN (escola, sistema e tradição secreta das artes marciais).

Se o indivíduo permanecia dez anos ou mais junto do seu mestre, demonstrando assim interesse e dedicação, recebia o Menkio, a licença que permitia ensinar.
Essa licença podia ter diferentes denominações como: Sensei, Shiran, Hanshi, Renshi, Kyoshi, dependendo de cada sistema em particular.
A licença definitiva que podia legar e outorgar acima do Menkio, era o certificado Kaiden, que além da habilitação para ensinar, significava que a pessoa tinha completado integralmente a aprendizagem do sistema.
O sistema actual que rege a maioria das artes marciais usando Kyu ( classe) e Dan (grau) , foi criado por Jigôro Kano, o fundador do Judo Kodokan.
Kano era um educador e conhecia as pessoas, sabendo que são muitos os que necessitam de estímulos imediatamente depois de haver começado a praticar artes marciais. A ansiedade desse tipo de praticante não pode ser saciada por objectivos a longo prazo.

Na classificação por cintos coloridos, KYU significa classe, sendo a classificação feita por ordem decrescente.
Na classificação de faixas pretas, DAN significa grau, sendo o primeiro cinto preto o de 1º Dan, o segundo cinto preto 2º Dan e assim por diante em ordem crescente até ao 10º Dan (homenagem póstuma).

Num plano simbólico, o branco representa a pureza do principiante, e o preto refere-se aos conhecimentos apurados durante anos de treino.
No Japão, o título mais alto que uma pessoa pode obter nas artes marciais denomina-se HANSHI;
É um alto cargo, cujo significado transcende as habilidades físicas ou técnicas, e que significa mestre exemplar.
Porém, nenhum título é mais conhecido que "Sensei". Mas afinal, o que significa Sensei ?
Literalmente, SENSEI significa vida prévia. Isto significa por tanto, num contexto oriental, que se está diante uma pessoa com um conhecimento avançado da arte e um nível de conhecimento humano elevado.
Portanto, Sensei não significa somente professor de arte marcial, mas também pessoa culta, educada e de conduta irrepreensível.

Cinturão e Equipamento


O Significado do OBI (FAIXA)

O obi é um cinturão ou faixa que serve para manter o kimono fechado, e que tem um significado simbólico.
Esse aspecto simbólico são as cores que cada um possui.

Os cinturões coloridos do Karaté são símbolos não só do que se pode esperar do treino, mas também da recompensa para os esforços. Ambos, preto e branco, raramente, se é que alguma vez aparecem na sua forma mais pura na natureza e desta forma ambos os fenómenos são considerados como não cores. O branco reflecte todas as ondas se luz, mas não absorve nenhuma, porque já contém a luz do espectro de cores. Assim, o cinturão branco simboliza o potencial do novo estudante de alcançar os outros graus. Junto com o cinturão preto, o cinturão branco é o mais importante de todos na vida do karateca.

Com dedicação, a sua vida pode ser alterada para sempre e até onde pode ir, depende de si e tão somente de si.

Trabalhando através dos anos e dos exercícios, o último cinturão é o cinturão preto.
Preto é a cor sem cor, a cor que absorve todas as outras cores. Quando uma superfície preta está exposta à luz forte do dia, acabará por absorver completamente as ondas de luz e, em pouco tempo se tornará demasiado quente para se tocar. Isto torna-se no mote do novo cinturão negro: demasiado quente para se tocar!
Preto é a cor da força. Utilizando a comparação do pintor e das cores, é uma cor demasiado pigmentada não sendo facilmente coberta por outra cor, o cinturão preto é o mais forte de todos os karatecas.

No entanto, a chegada a shodan (cinturão negro) é um novo inicio, não é o fim de uma viagem, pois não há lugar para manter o orgulho e egoísmo. Que tolice pensar que já temos tudo!
Deve continuar a treinar, mesmo nos anos mais avançados da sua vida; tal como o cinturão branco, que gradualmente se tornou preto, o seu cinturão preto desbota-se pouco a pouco, desfiando-se nas extremidades e volta a ser branco. Assim o círculo fica inevitavelmente completo: de novo o mestre se torna estudante. Assim se completa o ciclo.

EXISTEM TRÊS TIPOS DE CINTURÕES PRETOS:

1-) Existe a pessoa que por colaborar na divulgação do Karaté tem o reconhecimento do seu serviço com um certificado de Cinturão Preto Honorário (chamado em japonês de Mey-dan).
2-) Existe a pessoa que é Karateca e treina regularmente, mas não possui o índice técnico necessário para ser aprovado num exame oficial; por ser muito antigo, e para evitar constrangimentos, pode receber o cinto preto como reconhecimento do empenho demonstrado. É o Suisen-dan (grau por antiguidade).
3-) E, por último, existe o Jitsu-Kyoku-dan, que foi aquele praticante que se submeteu a um exame e foi aprovado, possuindo o nível técnico e o treino que justificam a sua graduação.
Note-se ainda que o cinto preto no Karaté não é sinónimo de professor de Karaté, mas sim, de pessoa que se sacrificou o suficiente para conseguir um relativo controlo de seu corpo e da sua mente.

Fontes de Pesquisa:
www.karatebarretos.com.br

O equipamento

Porque o fato de treino é muito parecido com o equipamento de combate de um soldado, qualquer praticante de Karaté deverá encarar o seu fato com carinho e respeito e deverá sempre tomar bem conta dele. O homem que tem real carinho pelo Karaté, também deve tomar conta do seu fato de treino e mante-lo limpo.

“Reparar um fato de treino rasgado não é desgraça, mas usar um fato de treino rasgado é uma desgraça”
(Mas Oyama)

Fontes de Pesquisa:
FERNANDO, ANTÓNIO (2000). Karate Kyokushinkai – European Championships – Portugal 2000, Espanha: Grafol S. A. (livro promocional)

Arbitragem

A Ética na Arbitragem do Karaté
( Por: Alexandre Conrado )

“Amigos, eu, Prof. Silvio Ricardo Rodrigues, recebi no dia 08 de maio/2002 às 13:01 horas, o e-mail abaixo, e que se trata de um relato de uma pessoa do Estado de Sergipe, preocupada, tanto quanto eu, com as arbitragens no karaté.
É bom saber que não estou sozinho, e que outras pessoas compartilham do mesmo sentimento que eu, no que diz respeito a esse tema tão polémico:
"Acompanhando há alguns anos o esforço esportivo do meu e dos filhos de vários outros companheiros, resolvi, não sem reflectir bastante, tecer considerações acerca da ética na arbitragem do Karaté, sem dúvida uma ferida a comprometer todo um corpo filosófico que já teria sucumbido, não fosse, acredito, a dignidade de alguns mestres verdadeiros, pois muitos tenho conhecido, absolutamente descomprometidos com a preservação do espírito dessa arte marcial nobre.
Nestas linhas, estou movido pelo desejo sincero de resgatar os atletas dos tatamis por estar convencido de que não é ali que se forma o verdadeiro karateca, mas no estudo e na reflexão, desde o Za-zen, até a mais profunda assimilação do Budo.
Lamento, aliás, não com menos sinceridade, que a prática venha suplantando em muito a teoria e que as academias, além dos exames comuns, não adoptem exames teóricos que abordem a história, a metodologia, a essência dos fundamentos desenvolvidos ao longo dos anos.
O drama da ignorância acerca das reais finalidades do Karaté materializa-se durante as competições.
Ali, mais que em qualquer outro momento e lugar, testemunhamos não apenas a incompetência, que seria desculpável, se respaldada pela boa vontade e pelo desejo de acertar.
O que vemos, porém, é a fraude, o subterfúgio, a gatunagem tristemente mal disfarçada, patrocinando vitórias imerecidas.
E tudo isso sob o manto de um juramento solene, prestado com o braço soerguido, como se o respeito à própria consciência não devesse ser o objectivo primeiro de todos os que se curvam perante a serena imagem dos Mestres Fundadores e das Bandeiras.
Como leigo, pai de um jovem karateca e admirador sincero desse desporto, aprendi que o Karaté não está simplesmente no tatami.
Sinto-o no cumprimento digno ao oponente; na preocupação que devemos ter com todos os atletas, mesmo de academias adversárias, que estejam sedentos ou com fome, durante as estafantes permanências nos ginásios; na expectativa da vitória justa, seja de quem for.
É sempre triste quando nos vangloriamos, pais, atletas ou mestres, por vitórias imerecidas.
É como se traíssemos a memória dos antepassados que construíram a estrada na qual palmilhamos.
Que dizer então, quando os árbitros suprimem ou acrescentam pontos, invalidam bandeiradas correctas dos árbitros laterais, surrupiam preciosos segundos dos cronómetros?
E dos mestre que recomendam aos árbitros das suas academias que preservem pontos para os seus atletas?
E outros, ainda, que aconselham que os lutadores finjam o "contacto" para que o adversário sofra derrotas por faltas que não cometeu?
Os que assim procedem com certeza imaginam que pais e mães, escaldados durante seis ou sete anos de arquibancada, nada conhecem de Karaté.
Como estão enganados! Ademais sequer imaginam que estão a ser observados e que os seus nomes estão a ser inscritos no rol dos incapazes, quando não entre os desonestos.
Discutia, há poucos dias, com amigos filiados a federações distintas.
A falta de ética na arbitragem do Karaté era a tónica da nossa conversa e das nossas preocupações.
Um deles, desencantado, afirmava que a arbitragem era o mais temido adversário do karateca e estava decidido a pendurar o cinto.
Agradecíamos aos Céus, na oportunidade, pelo fato de o Karaté não ser ainda um desporto tão difundido, para que a vergonha da arbitragem imoral não lhe conspurque a imagem pura, preferindo que ele se renove antes, não pela supressão das tradições, mas exactamente pelo resgate dessas, pois com elas, igualmente, serão resgatadas a dignidade, o respeito, a cordialidade e a honra.
O Karaté, para mim, tem sido motivo de grandes alegrias, mas a arbitragem que nele tem sido praticada tem provocado tristezas para inúmeras pessoas e, pior, tem incentivado os frágeis de carácter a agirem de modo igualmente desonesto, indiferentes à qualidade da vitória que obtêm.
Quando o meu filho pediu para "aprender Karaté", preocupamo-nos em procurar uma academia dirigida por um mestre que não fizesse dele, apenas, um campeão ou um coleccionador de medalhas, mas que fosse capaz de dar contornos de perfeição à sua personalidade ainda em formação.
Graças a Deus acertamos e com que alegria o meu filho a minha esposa e eu próprio temos aprendido naquele Dojo a grandeza de ser honestos no desporto.
Graças, também, aos verdadeiros Mestres e aos árbitros que aceitaram as suas instruções o Karaté vem resistindo aos golpes que lhe aplicam seus falsos adeptos.
Quero acreditar, sob esse aspecto, que o Karaté encontrará o seu verdadeiro caminho, afinal não se concebe que a "luta de mãos vazias", tão limpa na sua essência, esteja submetida ao critério duvidoso de uma arbitragem suja.

Eu, Sensei Silvio, quero aqui agradecer ao Sr. Alexandre Conrado, por enviar esse e-mail.”

Fontes de Pesquisa:
wwww.karatebarretos.com.br

Rivalidade entre Estilos


Se passarmos uma vista de olhos pelo mundo das Artes Marciais dos nossos dias, far-nos-á pena apercebermo-nos da rivalidade existente entre estilos e escolas.
Este é um problema que se arrasta há séculos, e no entanto, em pleno século XXI ainda se ouve com excessiva frequência frases do tipo: 0 meu sistema é melhor do que o teu, tal país tem melhor sistema de determinada modalidade que tal outro, etc. ...

Penso que é chegada a hora de por as diferenças de lado e enfrentar o facto de que todos pertencemos à mesma família: a dos artistas marciais e a dos seres Humanos; para além disso, assim poderemos adquirir novas aprendizagens e ter um conhecimento mais aprofundado das artes marciais.

Como tal, Bruce Lee viu os diferentes estilos tal como realmente são: segmentos de uma totalidade. Pura e simplesmente. Não importa quão completo seja o estilo, é impossível que possa cobrir todas as possíveis situações e todas as possíveis necessidades dos diversos tipos de pessoas que o possam estudar no futuro. Conceitualmente e por definição, é coisa impossível. É como alcançar a perfeição. Todos sabemos que não é possível, mas o importante é que ainda assim nos esforçamos por nos aproximarmos dela. Para tal é preciso estarmos abertos ao intercâmbio de técnicas ou dispostos a treinar com outros praticantes.

Como se costuma dizer, devemos gozar mais da viagem do que da chegada, pois a viagem é algo como a vida, com movimento, enquanto que a chegada significa parar todo o movimento, estancamento no destino e chegar ao terminal. Aliás, é a força de vontade do indivíduo o que determina que alguém seja um grande lutador, e não um determinada estilo. Logo para se ser u bom artista marcial o mais importante não é o estilo, mas sim qualidades como: determinação, força, velocidade, perseverança, equilíbrio, coordenação, etc., no estilo que se pratica.

Todo este aperfeiçoamento requer e cada um, um constante processo e refinamento e pesquisa, em busca de que realmente o ajuda a expressar-se a si mesmo honestamente como ser humano. Nunca chegando a destinos, mas sempre na rota, a bordo da chamada auto-descoberta. Tal como Bruce Lee nos dizia: “Como um escultor que lima e descarta o não essencial, até chegar a descobrir a obra por debaixo da pedra bruta, assim o homem do J.K.D. está em constante processo de descartar o que não é propriamente seu, até alcançar esse punhado de técnicas que funcionam para ele e que lhe servem como postes anunciando o caminho para um nível superior de entendimento”.

Assim, o último objectivo das Artes Marciais não reside na vitória ou na derrota mas sim na perfeição do carácter dos seus.


“Estudar Artes Marciais é como escalar uma escarpa, continua sempre em frente sem descanso. O descanso não é permitido porque causa recessões para anteriores estados alcançados. Perseverando dia após dia, melhora-se a técnica, mas descansar, nem que seja um só dia, causa lapsos. Isso terá de ser evitado.”



“No ensino do karaté, encontrei todos os géneros de estudantes assim como todo o género de personalidades. Alguns têm a matéria de um excelente homem de karaté. Outros são preguiçosos. Num curto período de seis meses ou de um ano, é difícil saber a extensão até onde as pessoas se vão desenvolver. Alguns são bem coordenados e fazem progresso rapidamente no início para depois descansar sobre seus louros, tronando-se preguiçosos, e no fim vêm-se ultrapassados pelas pessoas que no início eram muito menos promissoras.”
(Mas Oyama)


Fontes de Pesquisa:
Cinturão Negro, nº 79, (Junho 2000). p. 22, 23

Bushido - O suporte mental dos Samurais


" O homem deve ser duro consigo , porém, temperado pela bondade"
Filosofia Bushido

Bushido, literalmente traduzido como “O Caminho do Guerreiro”, desenvolveu-se no Japão entre as eras de Heian e Tokugawa (séc. IX-XII). Era um modo de vida e um código para o Samurai, uma classe de guerreiros similar aos cavaleiros medievais da Europa.

Eram influenciados pelo Zen e pelo Confucionismo, duas escolas diferentes de pensamento desses períodos. O Budismo põe ênfase na “Lealdade, Autosacrifício, Justiça, sentido de vergonha, modos refinados, Pureza, Modéstia, Sobriedade, Espírito Marcial, Honra e Afecto”.

Bushido é uma palavra japonesa que resulta da soma de "Bushi" (samurai, guerreiro) + "do" (caminho).
Este código de conduta dos samurais, foi posteriormente transmitido às artes marciais em geral, embora actualmente esteja um pouco esquecido, tudo o que se refere à Honra, à Honestidade, aos Bons Costumes e ao Código de Conduta é ainda cultuado e perpetuado nas academias sérias de Artes Marciais.
O Bushido , código de ética dos samurais, tinha mais força que as próprias leis do Japão.
Transmitido oralmente, todos os clãs de samurais o seguiam à risca. Para o Bushido, o objectivo da vida de um samurai era uma morte honrosa.

O Samurai e a sua relação com a Morte

O espírito de um guerreiro valoroso tinha de estar constantemente preparado para morrer.
Por isso, era preciso viver cada momento como se fosse o último.
Tudo tinha de ser feito com o máximo empenho, e a morte tinha de ter um significado, não podia ser inútil.
Como resultado os samurais ficaram conhecidos até aos nossos dias por jamais vacilarem diante do fim, nem mesmo nos momentos de maior perigo nos campos de batalha.
Um samurai rezava o Bushido antes de cada batalha, devia estar preparado para vencer o inimigo sozinho, mesmo que esse fosse numeroso e as chances de vencê-lo fossem mínimas.
Ao receber um golpe mortal, dizia o Bushido, o samurai não podia cair de bruços, em posição desonrosa, dando as costas para o inimigo.
Ele deveria encarar o inimigo de frente, mesmo morto.
Desde criança, os samurais absorviam os conceitos budistas da reencarnação.
Acreditando desde cedo que a morte não é o fim, mas apenas uma porta de passagem para uma nova fase de existência que poderia ser atravessada a qualquer momento.
Não havia honra maior para um samurai do que morrer defendendo o seu senhor ou a sua própria reputação.
A familiaridade com a morte era tão grande, que um samurai preferia matar-se a ser preso pelo inimigo.

Seppuku

O Seppuku era nada mais, nada menos um suicídio cerimonioso, usado exclusivamente pelos samurais como forma de limpar a Honra ou evitar cair em desgraça.
Geralmente era realizado com uma adaga, com a qual, depois de ajoelhado, o samurai perfurava o próprio ventre e dilacerava-o em forma de L ou cruz, até as vísceras ficarem expostas (Harakiri).
A exposição das vísceras simbolizava que ele estava mostrando a sua verdade, oferecendo o seu interior para ser purificado.
Após isso, outro samurai, escolhido pelo suicida (normalmente um amigo próximo), decepava-lhe a cabeça, como um golpe de misericórdia.
O Bushido era o suporte mental dos samurais.

Os sete princípios do Bushido

Estes são os sete princípios que regem o código do Bushido, o guia moral da maioria de samurais Rokugan. Sê-de fiel a eles e a vossa honra crescerá. Quebrem-os, e o vosso nome será injuriado pelas gerações vindouras.


1. GI – Honradez e Justiça: Sê honrado nas tuas maneiras com todo o mundo. Crê na Justiça, não na que vem dos outros, mas sim na tua própria. Para um autêntico samurai não existe o cinzento no que diz respeito à Honradez e à Justiça. Apenas existe o certo e o errado.


2. YU – Valor Heróico: Eleva-te sobre as massas de gente q teme actuar. Ocultar-se como uma tartaruga na sua carapaça ñ é viver. Um samurai deve ter valor heróico. É absolutamente arriscado. É perigoso. É viver a vida de forma plena, completa, maravilhosa. A coragem heróica não é cega. É inteligente e forte. Substitui o medo pelo respeito e pela precaução.

3. JIN – Compaixão: Mediante o treino intenso, o samurai torna-se rápido e forte. Não é como os restantes homens. Desenvolve um poder que deve ser usado para o bem de todos. Tem compaixão. Ajuda os seus companheiros em qualquer oportunidade. Se a oportunidade não surge, sai do seu caminho para a encontrar.


4. REI – Cortesia: Os samurais não têm motivos para serem cruéis. Não precisam de demonstrar a sua força. Um samurai é cortês até com os seus inimigos. Sem esta mostra de respeito não somos melhores que os animais. Um samurai recebe respeito não apenas pela sua ferocidade em batalha, mas também pela sua maneira de tratar os restantes. A verdadeira força interior do samurai torna-se evidente em tempos de apuros.


5. MEYO – Honra: O autêntico samurai só tem um juízo da sua própria honra, e é ele próprio. As decisões que toma, e como as leva a cabo são um reflexo de quem é na realidade. Não pode esconder-se de si próprio.


6. MAKOTO – Sinceridade Absoluta: Quando um samurai diz que fará algo, é como se já estive-se feito. Nada nesta terra o deterá de realizar o que disse que faria. Não há que “dar a sua palavra”. Não há que “prometer”. O simples facto de falar já pôs em movimento o acto de fazer.


7. CHUGO – Lealdade e Dever: O samurai é eternamente fiel ao seu senhor e eternamente responsável por aqueles que tem a seu cuidado. Só há uma lealdade superior à de um samurai: a do seu senhor para com os seus súditos.
Para um samurai, ter feito ou dito “algo” significa que esse “algo” lhe pertence. É responsável por ele e por todas as consequências que se sigam. As palavras de um homem são como suas pegadas, podes segui-las para onde quer que ele vá.


Cuidado com o caminho que segues

Eis alguns comentários de Mirumoto Jinto, Rikugunshokan do Clã do Dragão, sobre o código do Bushido:

Sobre o Valor: O caminho do valente não segue os passos da estupidez.

Sobre a Lealdade: Um cão sem amo vagabundeia livre, mas o falcão de um Daimyo voa mais alto.

Sobre o Respeito: Uma alma sem respeito é como uma casa em ruínas. Deve ser demolida para que se construa uma nova.

Sobre a Excelência: A perfeição é uma montanha inescalável que deve ser escalada todos os dias.

Sobre a Vingança: A ofensa é como um breve haiku (breve poema japonês de três versos): pode ignorar-se, desconhecer-se, perdoar-se ou apagar-se, mas nunca pode ser esquecida.

Sobre a Espada: A minha lâmina é a minha alma. A minha alma pertence ao me Daimyo. Ultrajar a minha lâmina é afrontar o meu Daimyo.

Sobre a Honra: A morte não é eterna; a desonra sim.

Sobre a Morte: O samurai nasce para morrer. A morte não é pois uma maldição a evitar, mas sim o fim natural de toda a vida.

O Credo dos samurais

Eu não tenho parentes,
Faço do Céu e da Terra meus parentes;
Eu não tenho lareira,
Faço do Tan T’ien a minha lareira.
Eu não tenho poder divino,
Faço da honestidade a minha força;
Eu não tenho condutas,
Faço da humildade a minha forma de relacionamento;
Eu não tenho poderes mágicos,
Faço da minha força de espírito o meu poder mágico;
Eu não tenho nem vida nem morte,
Faço da eternidade a minha vida e a minha morte;
Eu não tenho corpo,
Faço da coragem meu corpo;
Eu não tenho olhos,
Faço do relâmpago os meus olhos;
Eu não tenho ouvidos,
Faço do meu bom senso os meus ouvidos;
Eu não tenho membros,
Faço da vivacidade e rapidez os meus membros;
Eu não tenho leis,
Faço da minha autodefesa a minha lei.
Eu não tenho estratégia,
Faço do correcto para matar e do correcto para restituir a vida a minha estratégia.
Eu não tenho ideias,
Faço do tomar a oportunidade de ante mão as minhas ideias;
Eu não tenho milagres,
Faço do respeito à verdadeira doutrina o meu milagre;
Eu não tenho princípios,
Faço da adaptabilidade a todas as coisas o meu princípio;
Eu não tenho tácticas,
Faço do vazio e da plenitude a minha táctica.
Eu não tenho talento,
Faço da minha astúcia o meu talento.
Eu não tenho amigos,
Faço do meu espírito meu amigo;
Eu não tenho inimigos,
Faço do descuido meu inimigo;
Eu não tenho armadura,
Faço da minha sinceridade e da minha rectidão a minha armadura;
Eu não tenho castelo fortificado para me defender,
Faço da minha sabedoria e da minha mente inamovível o meu castelo;
Eu não tenho espada,
Faço da minha calma e silêncio espiritual a minha espada.


Fontes de Pesquisa:
www.karatebarretos.com.br
mx.geocities.com/karateveracruz/bushido.htm

Bushido - O suporte mental dos Samurais


" O homem deve ser duro consigo , porém, temperado pela bondade"
Filosofia Bushido

Bushido, literalmente traduzido como “O Caminho do Guerreiro”, desenvolveu-se no Japão entre as eras de Heian e Tokugawa (séc. IX-XII). Era um modo de vida e um código para o Samurai, uma classe de guerreiros similar aos cavaleiros medievais da Europa.

Eram influenciados pelo Zen e pelo Confucionismo, duas escolas diferentes de pensamento desses períodos. O Budismo põe ênfase na “Lealdade, Autosacrifício, Justiça, sentido de vergonha, modos refinados, Pureza, Modéstia, Sobriedade, Espírito Marcial, Honra e Afecto”.

Bushido é uma palavra japonesa que resulta da soma de "Bushi" (samurai, guerreiro) + "do" (caminho).
Este código de conduta dos samurais, foi posteriormente transmitido às artes marciais em geral, embora actualmente esteja um pouco esquecido, tudo o que se refere à Honra, à Honestidade, aos Bons Costumes e ao Código de Conduta é ainda cultuado e perpetuado nas academias sérias de Artes Marciais.
O Bushido , código de ética dos samurais, tinha mais força que as próprias leis do Japão.
Transmitido oralmente, todos os clãs de samurais o seguiam à risca. Para o Bushido, o objectivo da vida de um samurai era uma morte honrosa.

O Samurai e a sua relação com a Morte

O espírito de um guerreiro valoroso tinha de estar constantemente preparado para morrer.
Por isso, era preciso viver cada momento como se fosse o último.
Tudo tinha de ser feito com o máximo empenho, e a morte tinha de ter um significado, não podia ser inútil.
Como resultado os samurais ficaram conhecidos até aos nossos dias por jamais vacilarem diante do fim, nem mesmo nos momentos de maior perigo nos campos de batalha.
Um samurai rezava o Bushido antes de cada batalha, devia estar preparado para vencer o inimigo sozinho, mesmo que esse fosse numeroso e as chances de vencê-lo fossem mínimas.
Ao receber um golpe mortal, dizia o Bushido, o samurai não podia cair de bruços, em posição desonrosa, dando as costas para o inimigo.
Ele deveria encarar o inimigo de frente, mesmo morto.
Desde criança, os samurais absorviam os conceitos budistas da reencarnação.
Acreditando desde cedo que a morte não é o fim, mas apenas uma porta de passagem para uma nova fase de existência que poderia ser atravessada a qualquer momento.
Não havia honra maior para um samurai do que morrer defendendo o seu senhor ou a sua própria reputação.
A familiaridade com a morte era tão grande, que um samurai preferia matar-se a ser preso pelo inimigo.

Seppuku

O Seppuku era nada mais, nada menos um suicídio cerimonioso, usado exclusivamente pelos samurais como forma de limpar a Honra ou evitar cair em desgraça.
Geralmente era realizado com uma adaga, com a qual, depois de ajoelhado, o samurai perfurava o próprio ventre e dilacerava-o em forma de L ou cruz, até as vísceras ficarem expostas (Harakiri).
A exposição das vísceras simbolizava que ele estava mostrando a sua verdade, oferecendo o seu interior para ser purificado.
Após isso, outro samurai, escolhido pelo suicida (normalmente um amigo próximo), decepava-lhe a cabeça, como um golpe de misericórdia.
O Bushido era o suporte mental dos samurais.

Os sete princípios do Bushido

Estes são os sete princípios que regem o código do Bushido, o guia moral da maioria de samurais Rokugan. Sê-de fiel a eles e a vossa honra crescerá. Quebrem-os, e o vosso nome será injuriado pelas gerações vindouras.


1. GI – Honradez e Justiça: Sê honrado nas tuas maneiras com todo o mundo. Crê na Justiça, não na que vem dos outros, mas sim na tua própria. Para um autêntico samurai não existe o cinzento no que diz respeito à Honradez e à Justiça. Apenas existe o certo e o errado.


2. YU – Valor Heróico: Eleva-te sobre as massas de gente q teme actuar. Ocultar-se como uma tartaruga na sua carapaça ñ é viver. Um samurai deve ter valor heróico. É absolutamente arriscado. É perigoso. É viver a vida de forma plena, completa, maravilhosa. A coragem heróica não é cega. É inteligente e forte. Substitui o medo pelo respeito e pela precaução.

3. JIN – Compaixão: Mediante o treino intenso, o samurai torna-se rápido e forte. Não é como os restantes homens. Desenvolve um poder que deve ser usado para o bem de todos. Tem compaixão. Ajuda os seus companheiros em qualquer oportunidade. Se a oportunidade não surge, sai do seu caminho para a encontrar.


4. REI – Cortesia: Os samurais não têm motivos para serem cruéis. Não precisam de demonstrar a sua força. Um samurai é cortês até com os seus inimigos. Sem esta mostra de respeito não somos melhores que os animais. Um samurai recebe respeito não apenas pela sua ferocidade em batalha, mas também pela sua maneira de tratar os restantes. A verdadeira força interior do samurai torna-se evidente em tempos de apuros.


5. MEYO – Honra: O autêntico samurai só tem um juízo da sua própria honra, e é ele próprio. As decisões que toma, e como as leva a cabo são um reflexo de quem é na realidade. Não pode esconder-se de si próprio.


6. MAKOTO – Sinceridade Absoluta: Quando um samurai diz que fará algo, é como se já estive-se feito. Nada nesta terra o deterá de realizar o que disse que faria. Não há que “dar a sua palavra”. Não há que “prometer”. O simples facto de falar já pôs em movimento o acto de fazer.


7. CHUGO – Lealdade e Dever: O samurai é eternamente fiel ao seu senhor e eternamente responsável por aqueles que tem a seu cuidado. Só há uma lealdade superior à de um samurai: a do seu senhor para com os seus súditos.
Para um samurai, ter feito ou dito “algo” significa que esse “algo” lhe pertence. É responsável por ele e por todas as consequências que se sigam. As palavras de um homem são como suas pegadas, podes segui-las para onde quer que ele vá.


Cuidado com o caminho que segues

Eis alguns comentários de Mirumoto Jinto, Rikugunshokan do Clã do Dragão, sobre o código do Bushido:

Sobre o Valor: O caminho do valente não segue os passos da estupidez.

Sobre a Lealdade: Um cão sem amo vagabundeia livre, mas o falcão de um Daimyo voa mais alto.

Sobre o Respeito: Uma alma sem respeito é como uma casa em ruínas. Deve ser demolida para que se construa uma nova.

Sobre a Excelência: A perfeição é uma montanha inescalável que deve ser escalada todos os dias.

Sobre a Vingança: A ofensa é como um breve haiku (breve poema japonês de três versos): pode ignorar-se, desconhecer-se, perdoar-se ou apagar-se, mas nunca pode ser esquecida.

Sobre a Espada: A minha lâmina é a minha alma. A minha alma pertence ao me Daimyo. Ultrajar a minha lâmina é afrontar o meu Daimyo.

Sobre a Honra: A morte não é eterna; a desonra sim.

Sobre a Morte: O samurai nasce para morrer. A morte não é pois uma maldição a evitar, mas sim o fim natural de toda a vida.

O Credo dos samurais

Eu não tenho parentes,
Faço do Céu e da Terra meus parentes;
Eu não tenho lareira,
Faço do Tan T’ien a minha lareira.
Eu não tenho poder divino,
Faço da honestidade a minha força;
Eu não tenho condutas,
Faço da humildade a minha forma de relacionamento;
Eu não tenho poderes mágicos,
Faço da minha força de espírito o meu poder mágico;
Eu não tenho nem vida nem morte,
Faço da eternidade a minha vida e a minha morte;
Eu não tenho corpo,
Faço da coragem meu corpo;
Eu não tenho olhos,
Faço do relâmpago os meus olhos;
Eu não tenho ouvidos,
Faço do meu bom senso os meus ouvidos;
Eu não tenho membros,
Faço da vivacidade e rapidez os meus membros;
Eu não tenho leis,
Faço da minha autodefesa a minha lei.
Eu não tenho estratégia,
Faço do correcto para matar e do correcto para restituir a vida a minha estratégia.
Eu não tenho ideias,
Faço do tomar a oportunidade de ante mão as minhas ideias;
Eu não tenho milagres,
Faço do respeito à verdadeira doutrina o meu milagre;
Eu não tenho princípios,
Faço da adaptabilidade a todas as coisas o meu princípio;
Eu não tenho tácticas,
Faço do vazio e da plenitude a minha táctica.
Eu não tenho talento,
Faço da minha astúcia o meu talento.
Eu não tenho amigos,
Faço do meu espírito meu amigo;
Eu não tenho inimigos,
Faço do descuido meu inimigo;
Eu não tenho armadura,
Faço da minha sinceridade e da minha rectidão a minha armadura;
Eu não tenho castelo fortificado para me defender,
Faço da minha sabedoria e da minha mente inamovível o meu castelo;
Eu não tenho espada,
Faço da minha calma e silêncio espiritual a minha espada.


Fontes de Pesquisa:
www.karatebarretos.com.br
mx.geocities.com/karateveracruz/bushido.htm

Budo


A história do oriente perde-se nos segredos do passado. As suas religiões, os seus costumes, as suas tradições. Sabemos que o homem desde a sua aparição foi e é um eterno conquistador, desbravador e um ser sedento de poder. As mutações dos povos durante os séculos, levam-nos numa busca incansável de informações que nos dêem as respostas que procuramos.

No que diz respeito às Artes Marciais, em especial aos antigos samurais, pouco se sabe, mas ficaram perpétuos muitos detalhes e marcas deixadas por eles, sobretudo pelo facto de terem sido famosos e ainda pelo facto de terem criado o Código de Honra do Bushido.

O Budo tem influência do Budismo e do Xintoísmo, as duas religiões predominantes do Japão. Com a doutrina contrária do Taoísmo, o Yin e o Yang, o Confucionismo com a sua ética moral, as Artes Marciais foram-se enquadrando entre vários aspectos tais como: ideológicos, fisiológicos, teológicos e técnicos.

No Budo encerra-se toda a história das Artes Marciais de um modo geral. A palavra “Budo” quer dizer “Caminho do guerreiro” ou “Via do Guerreiro”. O seu significado, contudo, é mais amplo e requer a compreensão filosófica da palavra “caminho”.
Para os orientais, “caminho”, significa obedecer a uma série de regras de conduta de natureza moral, espiritual, na busca inatingível da perfeição, o que implica a fidelidade a uma série de princípios, tais como: honra, sinceridade, coragem, bondade, humildade, verticalidade, respeito, controlo.

O ambiente das Artes Marciais, para além de atraírem aqueles que já são possuidores destas virtudes, auxilia ainda o seu desenvolvimento.
Por isto tudo podemos concluir que o Budo está entranhado em todas as Artes Marciais, pois representa o espírito do guerreiro.

O Espírito de um Budoka


O karateca aprende a partilhar com os outros em vez de ser avarento e egoísta; desenvolve o sentido de irmandade cooperativo; ele não engana, ele é justo e atento e, tem consciência que para que as pessoas no interior, também no exterior do dojo, tenham confiança nele e o respeitem, tem de ser justo, simpático e maduro. Aprende que um segredo vital é ter a capacidade de rir de si próprio. Uma característica de um karateca maduro, é o seu bom sentido de humor:

“Sê sério em tudo, mas não leves nada demasiado a sério”

A espada japonesa é uma excelente comparação com o karateca. Não é somente uma arma perigosa, uma arma desenhada para matar eficazmente, mas também é uma bela obra de arte. E assim deveria ser o karateca. Uma pessoa tem a escolha de utilizar a arte para se desenvolver numa peça de beleza ou numa arma totalmente destrutiva e insensível. Torna-se numa pessoa civilizada e atenta. A arte ensina como viver e como morrer; como dar a vida ou como tirá-la. O coração deveria mostrar a beleza artística da espada. A vida é uma luta constante; vive-se com a pureza e com a intensidade de uma espada “Bizin” deliberadamente e com o espírito infalível do seu corte.

Fontes de Pesquisa:
FERNANDO, ANTÓNIO (2000). Karate Kyokushinkai – European Championships – Portugal 2000, Espanha: Grafol S. A. (livro promocional)

A Via do Guerreiro


Contrariamente ao que algumas pessoas afirmam, o estudante de Artes Marciais não desenvolve paralelamente uma filosofia peculiar da existência. Nas sociedades tradicionais este encontro entre a prática e uma filosofia ligada á mesma acontecia de forma natural.

No entanto, apesar de todas as transformações, determinados valores morais ultrapassaram a prova dos séculos e da aculturação de ditos sistemas guerreiros, e algumas das virtudes atribuídas à prática destas disciplinas foram capazes de permanecer ocultas dentro das estruturas rituais que acompanham a prática das Artes Marciais.

Há, podemos afirmar sem dúvida, um grande valor cultural e uma filosofia com um conteúdo autenticamente útil para o desenvolvimento do praticante, no conjunto de tradições orais e escritas do mundo das Artes Marciais do Oriente.

Para o oriental, o espírito não está separado da matéria. É a sua contra parte, pois nada pode existir sem o seu oposto complementar.
Embora formando uma só unidade, ambos os conceitos se manifestam de forma e de modo muito diferente. Para o oriental a matéria é o espírito concentrado, e o espírito a intenção da matéria, a vontade de ser que impregna e a desenha.

No guerreiro o processo de consciência passa por a modelação do que o espírito realiza na matéria. A realização deste processo é unificação de ambos, parte e contraparte de uma mesma coisa, numa só unidade consciente e livre. Esta integração leva implicitamente à ampliação dos limites da consciência. Este crescimento ilimitado que tudo abrange num ser que integrou em si mesmo espírito e matéria, é o que os mestres chamam de “satori” ou iluminação, talvez o objectivo supremo e ultimo do artista marcial. Este é o instante no qual o venerável Awa, mestre de Herriguel, se inclina perante o seu discípulo, depois de este ter executado um tiro com o seu arco. Quando Herriguel pergunta por a razão da sua atitude, o mestre responde: “Isso disparou”.

Essa total presença do Ser acompanhada do mais absoluto abandono é a marca inequívoca de um grande mestre do Budo. A água é a imagem mais repetida e move-se com total fluidez, adaptando-se a tudo o que encontra no seu caminho, sem nada a deter. A água é a imagem do sábio, não luta por obter forma definitiva alguma; adapta-se a todos os seus continentes, reacomodando-se sem cessar.

Para o artista marcial a ampliação dos limite da consciência passa pela integração consciente da sua mente, emoções e corpo numa só unidade, frente à proposta do místico, que adoptando uma posição dualista faz do seu espírito o seu Eu e do corpo o seu continente descartável.

A mística do guerreiro reside no seu esforço por agarrar o inacessível, por concretizar o universal, por compreender através da experiência. Desenvolve os seus sentidos e as suas aptidões físicas em vez de as negar, convivendo com o paradoxal de chegar a desprender-se das suas mensagens para acabar lendo um código interno de infinita sabedoria. Um código que fará de ponte entre o individual e o universal, para transformar o coração do Universo no seu próprio coração. Este é o caminho do guerreiro.

O Espírito de Perseverança


O espírito japonês é um espírito de perseverança. Se um ocidental pára com facilidade quando as coisas complicam, o japonês simplesmente tem consciência de que tem que insistir.

Quando sofremos dores durante o treino, isso não deve ser um sinal para parar, mas sim ser encarado como uma oportunidade de amadurecer através da perseverança. Tudo o que é preciso é aquela determinação especial.
Mesmo para quem tem falta de talento, mas que tem determinação e vontade de continuar, a alma torna-se receptiva e o instrutor estará sempre a seu lado.

Não há lugar para egoísmos no espírito de perseverança. Quando se encolhe de dor na maioria das vezes, é o ego que fica ferido, e não o corpo.

A resistência do corpo é verdadeiramente espantosa. Histórias de resistência sobre-humana em tempos de necessidade são numerosas. Mas se nós permitirmos que o ego fique ferido, então o corpo ficará fragilizado rapidamente e pára.

Ultrapassadas as fraquezas do seu coração, o oponente que está à nossa frente será insignificante.
O estudante acaba por perceber que ultrapassar o que julgava ser o seu limite nas longas séries de repetições das técnicas proporciona um espírito especial. Isto ensina-o a encarar as exigências do dia-a-dia com uma atitude madura e paciente. Golpes de adversidade não abalam facilmente o Budoka, que se apercebe que para se aproximar do seu potencial máximo é preciso um espírito de perseverança e “nunca desistir”. O primeiro indício deste espírito, ocorre no novo estudante, quando este decide libertar-se durante o treino e criar desafios em pequenas coisas, tais como: só mais uma flexão, só mais um salto, antes de desistir.

É neste humilde, mas vital, inicio, que cresce o desejo de se desafiar a si próprio. Aprende-se a encarar o conjunto das Artes Marciais como um sério desfio e com o que se pode aprender muito sobre a vida.

Um estudante enfrenta o seu oponente em “kumité” (combate) e aprende que os seus pequenos hematomas são realmente preocupações menores, face a aceitar o desafio a si próprio.

Em muitas Artes Marciais o “kumité” tem pouco conceito da realidade, ou simplesmente não existe. Como é que se pode reagir com confiança numa situação para a qual não fomos treinados? Pode ser muito educativo quando se dá um murro a alguém com o que pensávamos ser o golpe final, e o oponente se mantém de pé com o sorriso na cara? Como é que se pode realmente esperar lidar com êxito e maturidade numa confrontação real sem o teste do verdadeiro “kumité”?

“Perseverar enquanto se é empurrado”. Isto implica disposição de nos empurrar até ao limite de resistência, de perseverar sob qualquer pressão. No seu mais profundo, é um apelo muito pessoal à alma de parar e lutar, e assim ultrapassar as fragilidades da condição humana, que são tão comuns a todos nós.

Quem vive no espírito da perseverança não é incomodado por trivialidades, mantendo a calma num meio de uma infinidade de problemas; está sempre alerta; a sua vida é baseada na procura da verdade.
O espírito da perseverança e o espírito de auto-abnegação são sinónimos; ele respeita naturalmente os outros, é cortês e atencioso. Ele é humilde; procura sabedoria e força, e apercebe-se que tudo o resto não passa de um desperdício de esforços.


Fontes de Pesquisa:
FERNANDO, ANTÓNIO (2000). Karate Kyokushinkai – European Championships – Portugal 2000, Espanha: Grafol S. A. (livro promocional)

A Bravura


“Quando não temos nada a perder tornámo-nos valentes. Só somos tímidos enquanto nos ficar alguma coisa a que aferrar-nos.”
(Carlos Castaneda)

Quando a força da necessidade nos empurra do nosso adormecido existir até o “perceber”, para o despertar à vida consciente, surge uma força interior encontrando o seu caminho e razão: a Bravura. A Bravura vem do interior, como um estalido rebelde, e age como reacção do Eu à pressão do meio. Acorda-nos do assombro, do desconcerto e da perplexidade do facto de estarmos vivos, levando-nos a intervir contra forças que sentimos hostis, arremetendo decididamente contra tudo aquilo que se interponha no nosso caminho.

A Bravura não garante o êxito nas nossas acometidas, mas é condição essencial para enfrentar a Via do Guerreiro. Sem a sua presença, a nossa atitude descairia perante qualquer mesquinhez deixando-nos finalmente bloqueados e encerrados num medroso autismo existencial.

A Bravura não conhece substitutivos; não é planificável mas sim susceptível de ser treinada e vigorizada mediante o exercício de nos pôr-mos a nós próprios em situação de ter que utilizá-la.

Conforme os preceitos da medicina oriental, a Bravura habita na vesícula. Esta, junto com o fígado, domina o sistema nervoso no plano físico, e a ira no plano emocional. Há na Bravura uma certa dose de ira, de violenta reacção, de inconformismo e rebeldia.

Quando usas o poder, também ele te usa a ti, dado que tudo tende a saturar-se da sua própria energia. A Bravura é castigada pelo meio, pois age sobre ele de forma intensa e precipitada, no entanto, é recompensada pelo destino com, nada mais, nada menos, do que a imortalidade. Aquele que investiu com bravura e nobreza, que demonstrou a sua casta, força e poder, terá a sua vida indultada.

No guerreiro, os guerreiros impecáveis conseguem no momento da sua morte libertar toda a sua energia, unificando o seu ser de modo que a consciência perdura entrando a sua viagem para o infinito.

Tudo quanto começa tem um fim, assim manda a lei que está escrita na Natureza. No entanto, essa mesma lei sugere-nos que tal final é apenas uma visão parcializada da realidade, pois a energia, assim como tudo na Natureza, não se perde, transforma-se: “Nada se perde, tudo se transforma”.

Essa transformação é constante e tem lugar em cada segundo das nossas vidas: cada segundo é o princípio e o fim.

Essa unidade de conhecimento a que chamamos Homem, tem também a sua caducidade e é devorada a cada instante por algo que alimentamos consciente ou inconscientemente, aquilo que consome as nossas energias: os nossos sonhos.

As Artes Marciais ocupam-se de abrir no livro da nossa consciência alguns dos seus capítulos mais imponentes. Façamos deles então, um uso mais ou menos restringido.
Não é nunca culpa do sistema. As coisas não são boas ou más pelo que são ou parecem ser em si mesmas , mas sim por como as vivemos.

Fontes de Pesquisa:
Cinturão Negro, nº 71, (Outubro 1999). p. 5

A Estratégia

Qualquer grande literatura que fale sobre Estratégia acaba inevitavelmente por citar dois grandes Mestres: Miyamoto Musahi com “Go rin no sho – O Livro dos Cinco Anéis” e Sun Tsu com ”A Arte da Guerra”.

A Estratégia pode ser definida, pura e simplesmente, como sendo a arte de obter vitórias mesmo estando perto da derrota; obter ganhos, mesmo sendo a perda eminente.

A Estratégia para se alcançar a vitória pode ser traduzida através da seguinte máxima samurai:

“Deixe que corte as suas vestes,
para você lhe cortar a pele.
Deixe que corte a sua pele,
para você lhe cortar a carne.
Deixe que corte a sua carne,
para você lhe cortar os ossos.”

A Estratégia é, literalmente, a arte de se estar sempre em vantagem relativamente ao adversário. Por isso, você deve planear a sua táctica de luta, e ao entrar no local do combate, ter a certeza da sua vitória, porque, se em algum momento tiver dúvidas, estará a expor ao seu adversário todos os seus medos e receios; e visto isto, nunca obterá uma vitória completa nem controlará o combate.

Num confronto na rua, sabe-se que o grande mérito está em ganhar batalhas sem precisar de lutar. No entanto isso nem sempre é possível, e é por isso que se deve ter sempre uma estratégia de recurso, pronta a ser usada caso tudo o resto falhe. Acima de todo, nunca menospreze ou subestime um adversário. Pode ser um erro fatal.

Por outro lado, numa competição desportiva, é sempre necessário o confronto, embora de uma forma controlada. Pode ser a simulação de uma situação real para o público, mas nunca pode ser uma simulação para você mesmo. Por isso, crie estratégias, estude o seu adversário e assuma o domínio da situação.

A Estratégia existe em todo o ser vivo, seja ela a águia, o tigre, o coelho ou antílope. Dela depende a sobrevivência da própria espécie. Bem empregue, de forma simples e eficiente, pode faze-lo ganhar uma competição, ou até mesmo, numa situação extrema, livrá-lo da morte.. por isso, manter-se vivo é já à partida uma grande estratégia. Melhor que isto só manter-se vivo, bem e com honra. Como Sun Tsu disse:

“Conseguir cem vitórias em cem batalhas, não é a maior das habilidades. Vencer a batalha antes de lutar, essa sim é a maior das habilidades.”

Fontes de Pesquisa:
DE PAULA, GERALDO GILBERTO. Karate esporte, Ibrasa

Estratégia: a Ferramenta do Guerreiro


Para o praticante de Artes Marciais a palavra estratégia poder-se-ia traduzir por atitude, isto é, o sedimento que a experiência deixa no praticante, as marcas que no aprendizado vão modelando o seu ser e fazer.
É importante destacar a diferença entre estratégia e táctica. A estratégia são as considerações globais de um problema e devem conjugar os objectivos políticos com os objectivos militares. A táctica é a optimização das fórmulas para aplicar a dita estratégia.

No que se refere ao artista marcial, as considerações globais, como já apontamos devem ser entendidas mais como o desenvolvimento da atitude, isto porque, no combate ou na acção, a reflexão e o acto devem ser um só. Assim, o artista marcial deve incorporar dentro de si próprio a perfeita atitude como a maior das estratégias.

Em relação “modelo” de perfeita atitude, os mestres elaboraram diferentes formações. Podemos, no entanto, encontrar espaços comuns e realizar a seguinte síntese:

1 - Atenção (atitude desperta e relaxada)
2 - Adaptabilidade (não ter esquemas rígidos de acção, flexibilidade mental, tirar partido de qualquer circunstancia, etc. ...)
3 - Firmeza (temperança, aprumo, trabalhar desde o centro, decisão, etc. ...)

A maioria dos mestres coincidem em assinalar que a fórmula ideal é aquela que apresenta uma estrutura firme com funções elásticas e dóceis.

Atenção, Adaptabilidade, Firmeza

A atenção é unidireccional, isto é, só pode ser dirigido numa direcção de cada vez. Embora a sua enorme velocidade de movimento nos pude-se tender a levar a outras conclusões, uma atenta observação não deixará lugar a dúvidas.

Existem outros níveis de atenção não consciente, como a atenção mecânica ou a atenção automática, que são essenciais como suporte da atenção consciente. Uma fórmula muitas vezes repetida em diferentes estilos, para uma optimização da atenção, consiste em centrar-se num ponto que servirá de referência e que permitirá libertar a atenção consciente para que esta se mobilize rapidamente, para onde quer que possa ser requerida. Exemplos para a aplicação desta fórmula podem ser encontrados em algumas escolas de karaté, nas quais se recomenda fixar o olhar no espaço inter ciliar do contrário, de modo a prestar atenção ao conjunto do seu corpo. Também Ueshiba recomenda não prestar atenção à ponta do sabre, mas sim ao seu agarre, pois este demonstra a possível direcção do ataque, etc. ....

No que diz respeito à adaptabilidade, poderíamos destacar a unanimidade de todos os estilos, na hora de assinalar a sua importância, se bem que no que se refere à sua aplicação, as distâncias aumentam novamente. O facto de não se ter esquemas de acção rígidos entra em contradição, em muitos casos, com a aplicação excessivamente rígida das fórmulas que cada estilo prepara para reagir perante as diferentes possibilidades de defesa-ataque. A adaptabilidade, neste caso, também se poderia interpretar como uma atitude ou uma disposição de espírito do praticante, que lhe permita tirar o máximo partido de qualquer circunstância que surja.

A respeito da firmeza, a maioria dos sistemas diferenciam-na claramente da rigidez. Esta firmeza deve residir num centro forte e estável, e acaba sendo articulada como a condição indispensável para que a adaptabilidade possa ter lugar. É o aprumo, a temperança do espírito e o corpo do guerreiro, o objecto deste apartado. Dela se desprende o prudente uso da bravura, a natural contenção da energia, que se traduz e manifesta no poder que destila, que emana da presença do guerreiro.

O desenvolvimento destas virtudes é uma das conquistas do treino consciente do guerreiro, um treino que requer tanto da acção como da reflexão crítica do nosso trabalho.

Fontes de Pesquisa:
Cinturão Negro, nº 79, (Junho 2000). p. 32

Táctica


Escolha uma estratégia segura e confiável, estude-a intensamente e incorpore nela estratégias que o levem à vitória.

A sua estratégia não deve ser mudada constantemente, pois faz parte do estilo do lutador, porem, as tácticas devem ser as mais diversas, e devem der mudadas de acordo com cada adversário, com o clima, o tipo de competição ou outros pormenores, que apesar de serem “pormenores”, são os principais responsáveis pela derrota.

O adversário pode até conhecer a sua estratégia, o seu estilo, mas nunca o deixe descobrir a táctica que irá empregar, sob pena de “deitar tudo a perder”. Nunca revele a sua verdadeira intenção de atacar ou defender. A sua táctica deve ser como a água, que muda de forma de acordo com o recipiente em que se encontra, que pode ser sólida ou macia, de acordo com a temperatura, ser rápida ou lenta, de acordo com o terreno em que se encontra. Se adoptar estes princípios, que são extremamente difíceis de serem aplicados na prática, a probabilidade de vitória será grande em todos os aspectos.

“Você e o seu oponente são um só:
Há uma relação de coexistência entre vocês.
Você coexiste com o seu oponente e torna-se num complemento dele,
Absorvendo-lhe os ataques e usando a força dele para o vencer.”

(Bruce Lee)
Fontes de Pesquisa:
DE PAULA, GERALDO GILBERTO. Karate esporte, Ibrasa

Estudando o Terreno


Procure antes de cada luta estudar o seu adversário, os seus costumes, os seus gestos, a sua movimentação; se conhecer essas particularidades do seu adversário, será mais fácil montar uma estratégia para o vencer.

De todos os itens estudados, aquele com tem de se preocupar menos sãos os golpes do adversário, embora este seja o ponto em que a maioria dos atletas se concentra antes de uma luta – se o adversário tem um bom soco ou um bom pontapé – acabando por esquecer o principal: o interior do seu adversário.

Estude o íntimo dele. Só assim conseguirá anular os seus golpes.
Se estiver extremamente calmo, irrite-o, pois numa luta contra um adversário raivoso e irritado torna-se mais fácil ver onde estão as falhas dele. É como um touro raivoso que vê um lençol estendido sobre um muro: na sua fúria cega, ele só consegue ver o lençol e nunca o muro. Da mesma forma, um adversário raivoso não é capaz de perceber o que está para além dos seus olhos.

Se o adversário for mais forte fisicamente, não queira ficar a “cruzar golpes” com ele. Procure evitá-lo e ser oportunista nos contra-ataques.

Se o adversário é lento e fraco, não perca tempo com defesas. Ataque primeiro ou provoque o Sen no sen.

Se o adversário solta golpes desordenados e em sequência, fortaleça o seu bloqueio e ataque nos seus pontos mais vulneráveis.

Se o adversário o tenta irritar com gestos e fugas constantes, não se deixe perturbar, nem perca a concentração. Tente encurralá-lo num canto e depois movimente-se de forma a “fechar” a saída. Assim, ele terá forçosamente de “vir para cima” e tentar sair.

Acima de tudo, tenha sempre muito cuidado com o adversário que não cai nas suas fintas, que nunca evita os seus olhos e que não transmite qualquer tipo de emoção.

“Aprender é descobrir aquilo que você já sabe.
Fazer é demonstrar que você o sabe.
Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto como você.”
(Anónimo)


Fontes de Pesquisa:
DE PAULA, GERALDO GILBERTO. Karate esporte, Ibrasa

Não há diferença entre Ataque e Defesa


Quando se decide uma acção não deve haver diferença entre ataque e defesa. Este é o segredo de qualquer batalha e uma das regras fundamentais das Artes Marciais.
Nos anos trinta o almirante Suetsugu definia uma vez mais uma estratégia, que também está na origem das Artes Marciais: “O segredo do êxito numa batalha consiste em aperceber-se de que não há separação entre o ataque e a defesa”. O segredo consiste em estar sempre preparado. Quanto mais secreta é a força, mais poderosa ela é. Nunca se deve anunciar ou mostrar a nossa força, e , ao atacar, o golpe deve ser infalível e imprevisto.
Por essa mesma razão, os samurais dormiam apenas com um olho. Em qualquer posição, encostados, sentados ou tomando chá, a sua mão direita podia quase instantaneamente empunhar o sabre e acertar um golpe. Por isso, a arte de desembainhar o sabre ou “iai” converteu-se numa arte secreta, embora ensinada em inúmeras escolas. Esta estratégia sempre foi muito apreciada no Japão pois sabe esperar a sua hora para actuar como um raio.


Fontes de Pesquisa:
FERNANDO, ANTÓNIO (2000). Karate Kyokushinkai – European Championships – Portugal 2000, Espanha: Grafol S. A. (livro promocional)

Controle o seu medo ou será ele a controla-lo


“Quem tem muito medo e não o controla, acovarda-se e perecerá.
Quem nunca tem medo e é muito valente, é suicida e perecerá.
Quem tem medo e o controla, canalizando-o como instinto de sobrevivência, será sempre um vencedor.”
(De Paula)

O medo é o sentimento mais difícil de ser controlado pelo ser humano. Porém, é o sentimento que mais deve ser estudado e controlado por um lutador, caso este queira dominar a arte marcial que pratica.

Para controlar o medo, é necessário conhecê-lo e tê-lo sentido numa situação de extremo perigo, quer essa situação seja numa competição ou na vida quotidiana.

Todo o ser vivo sente medo, uns mais, outros menos, mas todos o sentem. É como se fosse uma espécie de stress que tanto pode ser positivo ou negativo. Faz parte do instinto de sobrevivência de cada espécie, e com o ser humano, não é diferente.

Tudo o que é desconhecido causa-nos apreensão e, com o tempo, aprendemos (uns melhor, outros pior) a desenvolver o que os praticantes de Artes Marciais chama de “zanshim”, ou presença de espírito alerta, que nada mais é do que uma espécie de “medo” controlado, de “stress positivo”.

Para ficar em “zanshim” é preciso que a pessoa em causa se sinta ou se pressinta perante alguma ameaça iminente. Esse sentimento de ameaça é responsável pela libertação na corrente sanguínea de substâncias químicas fabricadas pelo nosso organismo (entre os quais a adrenalina) que serão determinantes na forma como iremos actuar (seja a nossa opção lutar ou fugir).

Essas substâncias libertam um odor que, embora não seja sentido pelos seres humanos, é perceptível pela maioria dos animais irracionais. Os cães, por exemplo, quando farejam essas substâncias em qualquer animal, inclusive nos da sua própria espécie, atacam impiedosamente. Os cavalos também são muito sensíveis a essas substâncias, e quando a percebem em quem os está a montar ou domar, tornam-se irritadiços e de forma alguma obedecem às ordens do seu domador.

Dizem os cientistas que o homem também já foi dotado desse mesmo instinto de uma forma muito mais acentuada do que o que temos actualmente. Em épocas remotas, não dispúnhamos dos meios e métodos artificiais de defesa pessoal de que temos agora, e éramos obrigados a utilizar métodos mais naturais para a nossa sobrevivência num ambiente extremamente hostil, com criaturas poderosas, espécies temíveis, hoje extintas pelo processo de selecção natural da natureza.

Num combate, a grande vantagem será daquele lutador que “voltar às origens”, e conseguir “sentir” e “ler” nos gestos e nos olhos do seu adversário o grau de medo que o mesmo tem. Se sentir que o seu medo é exagerado, será fácil dominá-lo, pois ganhará a luta pelo excesso de fuga do mesmo, ficando relativamente fácil encurralá-lo num canto e atacá-lo.

Quando ele atacar, o seu golpe virá inseguro e sem eficiência. Se adoptar o Go no sen ou Sen no sen, com qualquer uma destas técnicas será fácil obter o sucesso absoluto (desde que seja precavido).

Se o seu adversário não tem medo nenhum, também fica relativamente fácil obter sucesso, pois se o ataque for eficiente, tem grandes hipóteses de ser fatal, pois muito provavelmente o seu adversário não o tentará bloquear com eficiência, menosprezando-o devido ao seu excesso de confiança, e quando atacar (apesar de atacar com a força de um touro raivoso), atacará sem o mínimo instinto de preservação, cometendo por isso muitas falhas. Se nesse momento aplicar a técnica de Go no sen, o êxito será grande.

Quando não conseguir “ler” ou “sentir” no seu adversário qualquer um desses dois sentimentos, ou seja, não existe nem excesso nem falta de medo, e ele se mantém naturalmente tranquilo e concentrado, então fique atento e tome cuidado: ele sabe controlar esse sentimento, e adoptará basicamente dois princípios:
1º - Não se irá expor levianamente, e será impiedoso quando o fizer;
2º - Atacará com precisão quando observar falhas na sua guarda, na sua movimentação, no seu golpe e na sua concentração.
Terá de usar todo o seu conhecimento adquirido para vencer: técnico, táctico e estratégico.

O medo de perder perante um adversário desse nível é natural; se você souber controlá-lo nesse momento, e transformá-lo em “stress positivo”, então terá força e coragem e sairá vitorioso dessa situação de extremo perigo.

“O medo é como uma torneira a deitar água desordenadamente.
A sua mente é como o registro central que controla a torneira, deixando que dela saia mais ou menos água; quando esse registro está com problemas, acontece o caos.
Procure sempre acalmar e dominar a sua mente e o seu medo estará sob controlo, pois ela é o registro central.”

Fontes de Pesquisa:
DE PAULA, GERALDO GILBERTO. Karate esporte, Ibrasa

Luta Mental


A Mente na Luta com Armas



A mente determina em alto grau a vitória ou a derrota num conflito armado. Na luta com armas (sejam elas facas, paus, garrafas, espadas ou outras), geralmente vence o mais forte mentalmente, e não o que tem a melhor condição física ou melhores armas.

Quanto mais perigosas são as armas intervenientes, mais importante é o papel que representa a disposição psíquica na luta.

Esta ideia pode ser esclarecida de maneira simples com um exemplo: numa luta de rua dois lutadores encontram-se separados por uma distância de 4 metros, um deles está desarmado; no momento de pegar na arma passam-lhe pela cabeça, numa fracção de segundo, milhares de pensamentos sobre os problemas que pode acarretar o uso de armas. O golpe infligido pela arma pode ser mortal para o seu adversário. O lutador continua com esta reflexão e a ideia petrifica o corpo, dirigindo-o para um grande perigo: não confia nos golpes ou então bate com pouca precisão.
É por este motivo que só se deve pegar numa arma, não importa de que tipo, apenas quando se estiver numa disposição firme e absoluta para o ataque, e quando as circunstâncias não permitirem outra solução para o conflito.

Num combate sem armas o medo à própria acção do ataque também desempenha um papel extremamente importante, normalmente por uma razão oposta: ter medo de que próprio golpe possa ter um efeito pequeno.

Outro factor mental de uma luta com armes é o medo às armas do adversário. O medo de que um golpe certeiro provoque ferimentos e dor condiciona toda a nossa conduta. Esse medo está, muitas vezes, relacionado com a capacidade de acção e de reacção do corpo.

É preciso “esconder” a própria arma e concentra-nos apenas na arma do contrário, tendo em conta um aspecto decisivo: não são as armas do inimigo que temos de vencer, mas sim o próprio inimigo.
Para poder controlar os nossos medos é preciso criar confiança na própria capacidade do corpo.

Não nos devemos esquecer do princípio das Artes Marciais: “Através do poder físico e consegue a força mental”. Para termos sucesso numa luta temos de acreditar que seja como for o golpe do nosso adversário nós vamos conseguir para-lo.

Um bom lutador pode ler o pensamento do seu inimigo: através das posturas e movimentos do corpo, da posição da arma, sabemos o que planeia o adversário. Também desta forma mandamos mensagens ao nosso inimigo: “não tenho medo”, “posso vencer-te”, “a tua arma não me pode fazer nada”, etc. ...

Tendo em conta o significado de todos estes elementos físicos de um combate, não nos podemos esquecer de que o facto de se tratar um combate físico é meramente secundário.
Quase podemos dizer que uma luta é um combate espiritual com meios corporais.


Fontes de Pesquisa:
Cinturão Negro, nº 78, (Maio 2000). p. 69

KI: A Energia Vital


O conceito orienta de Ki é muito difícil de definir. No Japão a palavra tem sido de uso quotidiano através dos séculos, desde que começou a infiltração da cultura chinesa. O Ki expressa o conceito das energias fundamentais do universo, das que formam a natureza e as funções da mente humana.

Na antiga China , como o Ki era a força que iniciava todas as funções físicas e psicológicas, o conceito de Ki ganhou um lugar na medicina, artes marciais, e em muitos aspectos da vida. Inicialmente utilizada com propósitos militares, diz-se que o conhecimento do Ki começou para determinar quando a força dos soldados estava no seu nível máximo, para, de acordo com ela, utilizar o movimento militar adequado. Posteriormente, o estudo do Ki desenvolveu-se até chegar a ser uma maneira prática de predizer o destino das pessoas por meio da habilidade do adivinho para julgar ou ler o Ki de uma pessoa.

A inter-relação entre a mente e o corpo não pode definir-se exclusivamente através do prevalecimento das leis naturais nem das experiências científicas. No Oriente, há já muito tempo que corpo e mente não existem como entidades separadas. Por isso, todos os aspectos da cultura oriental (a filosofia, a arte, as artes marciais, a medicina, etc.) esforçam-se por alcançar a vida universal através de uma compreensão empírica da união fundamental da mente e o corpo.

O mestre Shingeru Egami (Shotokai) explica-nos isto mesmo numa passagem do seu livro “Karaté-Do Nyumon”:
“O problema da mente é profundo. A sua elevação a um estado superior, a ampliação e a purificação de nós próprios, são as ultimas coisas conseguidas por meio da prática. É preciso treinar mente e corpo, pois de outra forma a prática não faz sentido. Tratem de limpar a vossa mente dos desperdícios da vida do dia-a-dia, por do contacto espiritual com os outros.
A mente e o corpo são como duas rodas de um carro, nenhuma delas tem preferência. Isto é prática autêntica. Obter alguma coisa de valor espiritual na vida é a verdadeira prática.
Entrando em contacto físico com os outros, também se entra em contacto espiritual. Na vida quotidiana é preciso chegar a conhecer as nossas relações com os outros, como cada um influi nos outros e como as ideias se intercambiam. É preciso respeitar os outros e pensar bem deles. As pessoas devem ser mentalmente abertas e respeitosas como bem-estar e a felicidade dos outros. Num combate, quando conseguirem transcender a simples prática, conseguirão ser um com o vosso oponente.”

O Ki unifica a mesma base da mente e do corpo e ao mesmo tempo tem uma relação recíproca com todas as coisas na fonte da criação. Todas as coisas vivas derivam do Ki, que se diz que enche o universo, nutre toda a criação com a sua presença omnipresente.

O Ki individual e o Ki da natureza estão unidos e influenciam-se reciprocamente. Por exemplo, quando dizemos que um dia com uma boa temperatura alegra o coração é porque o nosso Ki funciona em empatia (consonância) como Ki da natureza, que, por sua vez está em empatia com todas e cada uma das pessoas do mundo. Quando a mente e corpo são interpretados como duas individualidades, é difícil aceitar o conceito de que a mente e a matéria nasceram do mesmo Ki.

Keichi Mizushima expressa assim a empatia:
“A empatia não significa situar-se por cima dos outros; não significa implicar-se tanto como o outro que seja preciso rir e chorar juntos. Também não significa ser totalmente de acordo com o que se diz ou se critica. A empatia é o estado puro que é vivido antes de se formar qualquer tipo de julgamento. A empatia é fazer o esforço para sentir as emoções que estão presentes no outro, sem juízo de valor e do entendimento que pertencem a outra pessoa e não a nós mesmos.”

O Ki não é um a substância tangível, mas através da disciplinas orientais a visão da mente pode abrir-se a ele e pode sentir-se claramente a sua presença. O mestre das artes marciais não tem por si o menor indício de consciência para diferenciar entre isto e aquilo, quando se abre ao próprio espelho da sua alma. Mas como o espelho da sua alma é tão claro, que de facto ele vê tudo sem ver, distinguindo com exactidão sem distinguir. De novo, de maneira perfeita o mestre Shingeru Egami o descreve nesta passagem:
“Na prática quando o teu oponente der um golpe, deves já estar em movimento. Depois de o teres visto mover-se, já é tarde demais e um falso movimento da tua parte está fora do lugar, pois o golpe do teu oponente é quase mortal. Mover-se simultaneamente com o golpe; é preciso sentir a intenção do contrário. Mas na realidade, não é uma questão de usar a mente, é preciso mover-se naturalmente, sem pensar. Quando alcançares este estado, conseguirás mover-te simultaneamente com a ordem.
Se pensas muito sobre o começo do golpe contrário, não te aperceberás dos seus movimentos. Só quando a tua mente for tão aprazível como um lago de águas e estiveres fisicamente alertado, poderá aperceber-te dos movimentos do oponente e da sua respiração natural. Neste estado sentirás as mudanças nos sentimentos do teu oponente.”

Muitas culturas orientais baseiam-se neste conceito. No entanto, para os ocidentais o k é um conceito relativamente novo, e uma vez que existe uma forte tendência para intelectualizar tudo em termos de análise científica e cultural, o conceito do Ki, que é muito difícil de explicar inclusivamente linguística ou quantitativamente, não é fácil de entender.

Existe um Ki inato que está presente no princípio da vida no feto, enquanto que o Ki adquirido diz-se que se acumula externamente após o nascimento. Este Ki adquirido materializa-se em três tipos:
- TEM NO Ki: Ki da respiração e existente como ar.
- CHI KI: Ki da terra e existe como água e alimento.
- Ki dos MERIDIANOS: Base de toda a actividade vital.

Acredita-se que o Ki flui primeiro através do meridiano do rim, e esta é a razão pela qual nas artes marciais orientais o ponto de energia mais importante do corpo é o que corresponde ao dito meridiano; acredita-se que é o centro do Ki. Quando somos capazes de identificar e controlar este “centro”, em harmonia com uma unidade oscilante, que exala o ser mundo.

O Ki utiliza a mente e o corpo, integrando o consciente e o inconsciente. A influência do Ki nas funções da mente e do corpo dependem da imagem do mundo exterior que cada pessoa tem. Uma característica intrínseca ao ser humano é a crença de que vivemos por nossa própria volição; no entanto as nossas vidas são mantidas fundamentalmente por uma relação íntima com o Ki do mundo externo.

Esta imagem do mundo exterior cria quatro grupos de pessoas:

a) Aquelas em que a influência do Ki é nula porque estão tão apegadas à imagem do mundo exterior, que nunca abandonam essa característica intrínseca ao ser humano de acreditar que vive por própria volição.

b) Aquelas que se esforçam por conseguir o equilíbrio, mas procuram-no onde não o podem conseguir. Sentem o desacertado da sua atitude, estão convencidas da rectidão dos outros e esforçam-se por conseguir essa mesma rectidão. Mas estão tão apegados à sua atitude que no fundo não sabem o que é propriamente justo e o que é injusto, e ainda que aparentem sabe-lo. Por isso não podem transformar numa atitude justa o que reconhecem como injusto, nem podem evitar uma atitude injusta, ainda que reconhecendo a verdadeira. De vez em quando adoptam uma posição espiritual adequada e chegam ao autêntico silêncio e concentração. Então, por uns instantes sentem com claridade a atitude adequada. Mas isto passa rapidamente e de novo voltam os antagonismos entre o que é bom e o que é mau., justo e injusto. A estas pessoas o caminho do “coração ao coração” está-lhes ainda vedado.

c) Há pessoas que se esforçam por conseguir o equilíbrio mas estão desorientadas no início. Há entre elas pessoas que conhecem com exactidão a verdadeira atitude e que se esforçam por se livrar da falsa. Mas torna-se-lhes difícil conservar uma atitude justa.
Existem outros ainda que são conscientes da atitude adequada e limitam-se apenas em levá-la à prática sem mais.
Ambos os tipos de pessoas nunca permanecem estáticas e avançam sempre incansavelmente, o que fará com que mais tarde ou mais cedo cheguem à compreensão e canalização do Ki. Em todas elas existe o “dar e receber de coração a coração”.

d) Aquelas pessoas em que qualquer pensamento, actividade, atitude e todo o fazer e deixar de fazer revela Ki, estas são os verdadeiros mestres.

O objectivo do treino oriental do corpo e da mente é chegar à experiência pessoal de uma consciência indescritível que se funde como universo, e perceber que o Ser existe como Um com a natureza. Isto acontece quando se rompe a tensão entre o objecto, encerrado em si mesmo, e o Eu, até ao momento incapaz de o dominar. Quando chega a este momento surge da harmonia uma execução perfeita, como fruto da maturidade interna, meta final do exercício. Já não se precisa do raciocínio, porque a vontade ficou calada, o coração em repouso e o “Eu” morreu. A pessoa cauterizou o seu “Eu” com os seus sentimentos, desejos e pensamentos, tornando-o num meio transparente. Nas artes marciais novamente o mestre Shingeru Egami descreve-nos claramente o momento em que se alcança esse estado:
“É melhor começar praticando um kata simples, como o taikyoku, num grupo e com alguém a dar ordens. Deve-se praticar sem parar, dez, vinte, cinquenta vezes. Não poderá usar muito a cabeça nem esperar por isto. É preciso praticar energicamente sem pensar se o corpo está rígido ou não; só praticar fortemente. Isso é tudo.
O que acontecerá? No caso de gente jovem que goze de grande força e vigor e que pratique a kata desta forma, notarão cansaço depois de vinte ou trinta repetições, pois há um limite. Continuando a prática, ficarão ainda mais exaustos, até ao ponto de não poder estar em pé, respirando a borbotões e a sua visão nublar-se-à. Em consequência desejarão perder o conhecimento. Mas não devem parar, com o que se transformarão em autómatos e não poderão concentrar nenhuma força nos seus movimentos. Por outras palavras, não saberão o que fazem.
A esta altura notarão que os seus movimentos se tornam suaves e naturais. A mente fica inútil, mas o corpo terá obtido os movimentos. Se a prática continua, poderão chegar ao ponto em que a mente fica muito clara no que diz respeito aos movimentos do corpo. Ou podem esquecer tudo e cair no chão. Podem perder-se a si mesmos repetidamente, até descobrir que se sentem fortemente vigorizados. É então que compreenderão que caíram ou desmaiaram por esgotamento. Mas ainda assim, se escutam a voz de comando irão reagir de alguma forma, ainda que não necessariamente física. Ao mesmo tempo, chegarão a compreender a relação entre si mesmos e a pessoa que dá as ordens, a relação entre os praticantes e a relação entre corpo e mente.
Os movimentos do corpo e a fluidez de sensibilidade serão no começo algo confuso, depois aplacar-se-ão e finalmente entrarão num estado de tranquilidade e concentração e a sua respiração será regular, apesar do grande esforço dos movimentos.”

Quando recebemos o Ki universal com sentimentos positivos, como a compaixão, gera-se uma circulação de energia positiva e saudável. Por outro lado, quando recebemos a energia universal com sentimentos negativos, não damos apreso e compaixão aos outros e utilizamos a energia para querer-nos a nós mesmos, o Ki estanca-se, nascem os medos e as ansiedades, e a mente e o corpo permanecem num estado de tensão. O caminho para a saúde e bem-estar mental, físico e social abre-se onde existe uma direcção positiva e construtiva do Ki universal para todas as pessoas e todas as coisas. A essência da nossa vida é a busca da harmonia com toda a gente e com todas as coisas. O mestre Shingeru Egami analisa este ponto aplicando-o às artes marciais:
“Compaixão e consideração para com os outros, são palavras comuns, usadas frequentemente, mas levá-las á prática é sumamente difícil. Antes de chegar a realizar qualquer é de grande importância considerar não só a posição da outra pessoa, mas também compreendê-la plenamente, pois chegado a um pleno entendimento da outra pessoa, poderás alcançar a unidade com ela e verás como vitória e derrota deixarão de fazer sentido. Este é o verdadeiro segredo das artes marciais, coexistir com o teu oponente. E quando isto estiver consumado, o entendimento da essência humana far-nos-á cooperar com os outros e alcançar o nosso próprio entendimento. A prática não será completa enquanto não se alcançar este estado mental.
Começando com a prática do corpo e continuando com o treino do espírito, aprecia-se que corpo e mente não são duas coisas, mas sim uma. Esta é a verdadeira prática.”

As artes marciais adoptaram o conceito básico de Ki e pretendem alcançar a força infinita através da sua integração. Uma das técnicas básicas das artes marciais chinesas é bloquear o Ki do adversário, impedindo que este flua através dos meridianos, o que tem dado lugar a técnicas muito interessante, como a denominada “toate” (bater ou apontar ao longe), para lançar o adversário ao solo utilizando a força que proporciona o Ki, sem que exista nenhum contacto real ou físico. O domínio desta técnica é muito complicado, mas têm existido mestres que a dominam na perfeição, entre os quais se encontrava o mestre Morihei Ueshiba, fundador do Aikido, e o mestre Shingeru Egami (Shotokai).

Fontes de Pesquisa:
SOARES, JOSÉ GRÁCIO GOMES (1998). Teoria e Prática do Karatê-Dô Wado-Ryu, São Paulo: Ícone

O Kiai


O Kiai é o grito de ataque e defesa utilizado nas Artes Marciais e tem por finalidade:

- desenvolver uma energia maior no momento de ataque ou defesa;

- atemorizar o adversário, ou até mesmo paralisá-lo, impedindo assim que se defenda.

No compêndio das Artes Marciais, o Kiai era tido antigamente como uma arte tanto quanto as outras. O Kiai-jitsu era praticado pelos monges budistas, tendo por finalidade curar pacientes vítimas de síncope, usando recursos terapêuticos na emissão de determinados sons.

O Kiai é utilizado de uma forma consciente, em conjunto com uma técnica marcial, tal como todos sabemos; e, uma vez ou outra, todos nós já o usamos inconscientemente. Por exemplo: sempre que contraímos os músculos do abdómen para levantarmos um peso, emitimos, então, um grunhido no momento de maior esforço, estando assim a praticar uma forma de Kiai rudimentar.

Você poderá demonstrar a si mesmo os efeitos de cada processo do Kiai. Em primeiro lugar, há uma preparação para a acção, que chamamos de física e mental., que é uma concentração do poder que corre no plano físico e mental.
As duas fases do Kiai são: o retesamento e o impulso. Na fase do retesamento há uma contracção dos músculos abdominais e inspiração profunda. Assim o cérebro, que é o “quartel-general” das actividades mentais, prepara o corpo para um surto de energia.

A inspiração profunda enriquece a corrente sanguínea com o oxigénio indispensável para o nosso organismo. É lógico que, fisiológicamente, os efeitos de preparação para a acção, excitam as glândulas, que estimulam o coração e preparam todo o sistema nervoso para um serviço especial.

Na segunda fase (o impulso), leva-se em consideração a acção de atirar, levantar, empurrar ou desferir um soco ou um pontapé, enquanto o ar é expirado.

O Kiai é um grito de guerra, em que a respiração acompanha e produz o som do Kiai, que tem ainda um efeito psicológico, assustando e desconcentrando o adversário, aumentando a coragem e o poder de fogo daquele que emite o Kiai (atacante / defensor).

Façamos então uma experiência. Fique de pé e, de repente, dê um grito. Sentirá uma concentração involuntária dos músculos abdominais e uma onde de energia a atravessar o seu corpo. Ou mesmo numa conversa informal, dê um grito e verá que a pessoa que está perto de você se assustará. No entanto, o medo de ruídos altos e súbitos é um instinto natural do homem.

Existe ainda outro tipo de Kiai: o Kiai mudo, que se conceitua como o mais correcto; porém, este tipo de Kiai só é possível para os que galgaram altas posições na escada do Budo, porque são dotados de uma grande elevação espiritual.


Fontes de Pesquisa:
SOARES, JOSÉ GRÁCIO GOMES (1998). Teoria e Prática do Karatê-Dô Wado-Ryu, São Paulo: Ícone

O Zen e a Respiração


É de saber que, para termos uma boa respiração, é necessário que efectuemos alguma actividade física, com dedicação e persistência.

Todos nós sabemos (ou pelo menos devíamos saber) que, ao emitirmos um “Kiai” (grito), estamos a ir buscar energia à fonte, que está situada no nosso corpo, um pouco abaixo do umbigo, a que chamamos de Hara, e que soltamos, juntamente com a respiração, um determinada quantidade de ar que se acumula nos pulmões.

Ao meditarmos, ou fazermos Za-zen, nada mais é do que praticarmos o Zen. Assim, procuramos esvaziar a mente, fazendo com que esta se torne um só com o Universo, fazendo jus à filosofia que se encerra na palavra “Kara” (vazio). Ao praticar o Zen, está a meditar e a colocar a sua mente e o seu espírito num estágio ou nível que nenhum (não iniciado) colocaria. Isto permite-lhe desenvolver o seu subconsciente, desperta e aguça a auto-recepção, fazendo com que o seu corpo aja instintivamente ao menor movimento efectuado, percebido pela sua auto-percepção.

A respiração bem conduzida e trabalhada é aquela que se faz sob a filosofia Zen. E porquê? Isto porque, conhecendo a sua própria capacidade física e espiritual, consegue-se utilizar e regular a respiração ao longo da vida de cada um. A respiração é tão importante que, através dela, é possível limitar e reduzir uma dor no corpo, ou até mesmo não senti-la de todo; pode, ao emitir um Kiai, dominar o seu adversário, paralisar ou até mesmo causar total descontrolo emocional e psicológico. Todo este argumento resume-se na concentração da força energética universal, que se localiza no Hara de cada pessoa.

Certa altura, à muitos anos atrás, o lendário samurai Miyamoto Musashi estava a meditar, sentado em Seiza numa rocha à beira de um rio, quando de repente surgiu uma serpente bastante venenosa que veio ao seu encontro. A serpente aproximou-se, passou por cima das suas pernas e seguiu o seu caminho, muito naturalmente, como se nada de humano ou animal estive-se presente. É que, naquele preciso instante, Miyamoto estava de tal forma concentrado, com a respiração sob controlo, que era um só com todo o Universo, e portanto com a Natureza.

Para um começo de um controlo respiratório, o praticante deverá então sentar-se em Seiza, forçando um pouco o tronco para trás, concentrando a sua força no Hara. Deverá então iniciar uma respiração lenta, deixando depositar nos pulmões ¼ do ar contido. Expire e inspire imaginando o ritmo de um ponteiro de relógio a marcar os segundos. Conte cinco segundos, ao longo dos quais vai enchendo os pulmões; logo após, solte lentamente a respiração, até sentir que deixou ¼ do ar existente nos seus pulmões. Repita novamente a sequência, mantendo sempre o ritmo contínuo e lento. Com a prática e o aperfeiçoamento, este ritmo, que a principio precisa de ser pensado, passa a incorporar-se no nosso corpo e a sair espontânea e naturalmente sem necessitar de qualquer tipo de reflexão.

Fontes de Pesquisa:
SOARES, JOSÉ GRÁCIO GOMES (1998). Teoria e Prática do Karatê-Dô Wado-Ryu, São Paulo: Ícone

O Sentimento de Esperança

- É um sentimento de expectativa confiante em bens futuros que desejamos, mas cuja produção não depende de nós, ou só parcialmente;

- As Esperança é um sentimento forte que se contrapõe à inquietação, à angústia e ao desespero;

- Por vezes, a Esperança é um sentimento difícil, requerendo Paciência, Coragem e Firmeza, que são virtudes raras;

- O indivíduo que actua e luta, e que na luta e na acção vai sempre até ao fim, não corre o risco de angustiar-se;

- As grandes angústias e as grandes crises nascem da indecisão e da incerteza na luta;

- Os melancólicos, isolados do mundo, esgotados em conflitos interiores, caem em angústia permanente. Incapazes de acção (só a ideia de agir os apavora) tombando no desespero e acabando por não poder suportar a própria vida;

- O isolamento e a solidão gera o desespero e a intranquilidade no Espirito;

- A companhia é fonte de Esperança;

- A companhia Humana ou Divina extroverte o Espírito, a extroversão dissipa a angústia e o desespero;

- O Homem pode ter sempre Esperança enquanto se não sente só;


Fontes de Pesquisa:
CARVALHO, ALEXANDRE. Características do Alex Ryu Jitsu

Vencer ou Perder na Vida

A forma como encaramos a vida pode ser determinada na maneira como a sentimos. É por isso muito importante termos uma atitude positiva para que possamos ser vencedores na vida.

- Um vencedor diz “Vamos procurar entender”; Um perdedor diz “Ninguém sabe”.

- Quando um vencedor comete um erro, ele diz “Estava errado”; Quando perdedor comete um erro, ele diz “A culpa não foi minha”.

- Um vencedor sabe com e quando dizer “sim” e “não”; Um perdedor diz “sim, mas” e “talvez não” nas alturas erradas e pelas razões erradas.

- Um vencedor não tem assim tanto medo de perder e um perdedor tem secretamente medo de ganhar.

- Um vencedor trabalha mais que um perdedor, e tem mais tempo; Um perdedor está sempre “demasiado ocupado” para fazer o que é necessário.

- Um vencedor enfrenta os problemas; Um perdedor apenas contorna-os, nunca os conseguindo ultrapassar.

- Um vencedor faz compromissos; Um perdedor faz promessas.

- Um vencedor mostra que está arrependido, compensando o erro; Um perdedor diz “desculpa” mas faz exactamente a mesma coisa na vez seguinte.

- Um vencedor sabe por que lutar, e com o que se comprometer; Um perdedor compromete-se naquilo que não devia, e luta pelo que não vale a pena lutar.

- Um vencedor ouve; Um perdedor apenas espera até ser a sua vez de falar.

- Um vencedor prefere ser admirado a ser adorado, embora goste de ambas;

- Um perdedor prefere ser adorado a ser admirado, e está disposto a pagar o preço de se contentar com isso.

- Um vencedor sente-se suficientemente forte para ser gentil; Um perdedor nunca é gentil, ou é fraco, ou é insignificantemente tirano, alternadamente.

- Um vencedor respeita aqueles que lhe são superiores, e tenta aprender algo deles; Um perdedor recente aqueles que lhe são superiores, e tenta encontrar fendas na sua armadura.

- Um vencedor explica; Um perdedor não dá satisfações.

- Um vencedor sente-se responsável por mais do que apenas o seu trabalho; Um perdedor é indiferente.

- Um vencedor diz “Tem de haver uma forma melhor de o fazer”; Um perdedor diz “Foi sempre assim que as coisas foram feitas”.

- Um vencedor sabe-se moderar; Um perdedor tem só duas velocidades: histérica e letárgica.

Zen - A Arte do Silêncio e do Vazio


O Zen e as suas origens

A história do Zen data da chegada de Bodhidharma , desde o Oeste, no ano 523 da nossa era. Chegou á China com uma mensagem especial, que se resume nas seguintes linhas: Transmissão especial fora das escrituras; independência. Toda a filosofia Zen se baseia essencialmente no Taoismo, uma filosofia segundo a tradição Chinesa, fundada por Lao-Tzu ( também às vezes traduzido como Lao-Tsé ) e que foi baseada num tratado do pensamento e cultura Chinesa , escrito entre 3000 e 1200 A.C e que se chamava I Ching ou O Livro das Mutações , e que se pensa ser um dos primeiros tratados escritos nos primórdios da humanidade. Da mesma forma também teve muitas influências do Budismo Tibetano , não só pelas posturas de meditar mas também influências de tipo filosófico ; No entanto ao contrário do que se pensava, a sua maior influência foi do Taoismo e do Confucionismo. Ao contrário dos Ocidentais, as suas certezas baseiam-se em premissas como o demons­tra o seguinte poema Zenrin: " Existe uma coisa: Ao alto suporta o Céu ; em baixo sustenta a Terra". Os críticos Ocidentais troçam muitas vezes destas formas tão nebulosas de conceber o Absoluto , ridicu­larizando-as como "nevoentas" e místicas ao contrário das suas próprias concepções, tão marcadamente definidas. É pois esta a principal diferença entre a nossa maneira de vermos as coisas "tal como são" e a dos povos Orientais ,mais precisamente o povo Chinês . Eles fazem um maior uso da nossa "visão" periférica em praticamente todos os domínios do saber e que apesar de não nos apercebermos ´, é de facto muito mais eficaz do que a nossa em aspectos mais "esotéricos" do conhecimento. A ideia não é o de reduzir a mente a uma imbecil vacuidade , como à primeira vista nos parecia dar enten­der, mas o de trazer de novo à cena a sua inata e espontânea inteligência , usando-a "sem a esforçar". Segundo as palavras de Chuang-Tzu: " O homem perfeito usa a sua mente como um espelho. Ela nada aprisiona e nada recusa. Recebe mas não conserva".

Cada um dos outros sentidos pode similarmente ser utilizado para utilizar o funcionamento "não-activo" da mente : Escutar sem fazer esforço por ouvir ; cheirar sem inalações fortes ;provar sem dar voltas à língua ; tocar sem comprimir o objecto. O ponto importante está em que para o Zen , o centro da activi­dade da mente não reside no processo consciente de pensar , o Ego:

A centopeia era feliz, completamente.
Até que, de brincadeira, lhe perguntou um sapo:
"Qual é a perna que primeiro moves ?"
Tanto se atrapalhou a sua mente
que não mais conseguiu andar ...


Há portanto sempre o perigo de por causa da extrema especialização "não se ser capaz de ver a floresta por causa das árvores ". Este é realmente o problema principal no nosso modo Ocidental de ver a reali­dade tal como se nos apresenta. Hoje em dia ciências como a Cibernética(ciência do controlo) provam que , mecânica e logicamente ,qualquer sistema ao aproximar-se do perfeito autocontrole também se aproxima ao mesmo tempo da sua destruição e rotura: O "feed-back" de uma máquina dá-lhe a capacidade de estar informada sobre os efeitos da sua própria acção, de modo a poder corrigi-la. O exemplo mais familiar é o do termóstato eléctrico, regulando o aquecimento de uma casa. Estabelecidos os limites infe­rior e superior de temperatura , o termóstato controla a temperatura dentro dos limites desejados , ligan­do o aquecimento quando a temperatura desce ou desligando o aquecimento quando esta aumenta, dentro de uma certa "margem de erro" comum a todos os sistema de controlo. O que esta "margem de erro" quer dizer é que é impossível manter a temperatura constante indefinidamente ,e que há sempre uma certa tolerância de variação a que chamamos de margem de erro. Se quisermos um termóstato de precisão absoluta , isto é , se trouxermos os níveis superior e inferior ao mesmo nível , e se quisermos manter a temperatura constante a 30º Centígrados , por exemplo , todo o sistema se avaria. Isto porque se os limi­tes inferiores e superiores coincidem com os sinais para ligar e desligar. Ou seja, o sinal diz simultaneamente "pára" é ao mesmo tempo "liga"; A partir daqui o sistema entra em oscilação, ligando e desligando até ao sistema se fazer em pedaços !!!

Sentar sem “nada fazer"


Deveria ser óbvio para todos que acção sem sabedoria, sem uma clara visão do mundo , "tal como ele é" , jamais poderá melhorar seja o que for. Mais ainda , tal como a melhor maneira de tornar límpida a água lamacenta é deixa-la repousar, poderíamos argumentar que aqueles que se sentam calmamente "nada fa­zendo" estão a dar uma das melhores contribuições possíveis para melhorar um mundo de desordem.

Na verdade , nada há mais natural do que passar longos períodos tranquilamente sentado. Os gatos fazem-no. Até os cães e outros animais mais nervosos o fazem. Os chamados povos primitivos fazem-no, os Índios Americanos também, bem assim como os camponeses de quase todas as nações. Esta arte é extre­mamente difícil para os que desenvolveram a tal ponto o intelecto que não conseguem deixar de fazer previsões sobre o futuro, mantendo-se portanto , num constante torvelinho de actividade mental.

O Zen não é pois estar com uma mente vazia que rejeita todas as impressões dos sentidos externos e internos. É simplesmente uma atenção calma, sem comentários, ao que quer que aconteça aqui e agora.

No Sodo ou Zendo , sala onde os monges meditam , numa comunidade Zen , nada há particularmente susceptível de distrair a nossa atenção. O silêncio que se mantém , em vez de ser quebrado, torna-se mais profundo pelos sons ocasionais que chegam até ali vindos da aldeia mais próxima, pelo retinir intermi­tente de suaves campainhas vindo de outros pontos do mosteiro, e pelo chilrear dos pássaros nas árvores. Para além disto há apenas o ar da montanha frio e límpido e o odor a madeira de uma espécie de incenso.
Contemplação Espiritual


Desde os primeiros tempos, o Budismo deu especial importância ao recolhimento e contemplação na posição de sentado. Meditar sentado não é como muitas vezes se supõe, um "exercício" espiritual.

Trata-se apenas da maneira mais correcta de se sentar de modo a sentirmo-nos perfeitamente naturais enquanto na postura , enquanto "sem mais nada para fazer", e desde que o indivíduo não esteja consumido pela agitação nervosa. Para o temperamento irrequieto do Ocidental, meditar sentado pode parecer uma desagradável disciplina, pois não nos sentimos capazes de nos sentarmos " só por nos sentarmos" , sem abandonarmos a consciência, sem sentirmos que devíamos estar a fazer algo mais importante para justifi­car a nossa existência. A fim de aplacar esta consciência irrequieta, meditar sentado torna-se um exercí­cio, uma disciplina com um objectivo ulterior. Contudo a partir desse preciso momento deixa de ser medi­tação ( Dhyana) no sentido Zen , porque onde há propósito , onde há um procurar e tentar alcançar resul­tados, não há Dhyana ( meditação ). A Palavra Dhyana é a forma original Sânscrita de meditação, do Chinês Ch´an e do Japonês Zen. "Meditação" no sentido vulgar de "pensar bem as coisas" é uma tradução extremamente enganadora ( e muito menos ainda a de concentração !... ).

Embora o nome Zen seja o sinónimo linguístico de meditação, há inclusivamente alturas em que se diria que a forma prática da meditação não é de modo algum necessária ao Zen. Também não é característica particular do Zen "nada ter para dizer" , ou seja , a insistência de que a verdade não pode ser expressa por palavras , pois já estes ideais tinham sido expressos anteriormente no Taoismo. Lao-Tzu afirmava que:
"Aqueles que sabem não falam . Aqueles que falam não sabem ".

Mas no Zen existe sempre a sensação de que o "acordar" é perfeitamente natural, espantosamente eviden­te, que poderá suceder a qualquer momento. Daí o ênfase que os primeiros mestres punham no acordar imediato, durante as ocupações do dia a dia.
A forma não é diferente do vazio. O vazio não é diferente da forma.
A forma é o vazio . O vazio é a forma.


Koans: Ver pela não-forma

Numa Doutrina tão abstracta que é o Zen nada mais difícil do que estabelecer qualificações correctas no imponderável domínio da visão espiritual. O problema não é muito grave quando os candidatos são pou­cos, mas quando um mestre é responsável por algumas centenas de estudantes, o método de ensino e avaliação impõem uma normalização. O Zen resolveu este problema com notável habilidade, empregando um meio que não só proporciona uma prova de competência, mas ainda - o que é muito importante - uma forma de transmitir a própria experiência Zen, reduzindo ao mínimo as possibilidades de erro.

Esta foi a invenção do sistema Koan ou "problema Zen". O estudante deve mostrar que experimentou o sentido do Koan por uma demonstração específica, geralmente não-verbal, e que terá de descobrir intuitivamente. O sistema Koan foi desenvolvido na Escola Rinzai do Zen, mas não sem oposição. A escola Soto considerou-o demasiado artificial. Esta argumentava que se prestaria com demasiada facilidade a essa busca do satori ( "Iluminação" ou "acordar" ) conduzindo a um afastamento do satori. Assim a sua opinião é que o verdadeiro Dhyana repousa na acção não-motivada ( Wu-Wei) , no "sentar-se só por se sentar", "andar só por andar".

A escola Rinzai foi introduzida no Japão em 1191 pelo monge Eisai, fundada em Kioto e Kamakura, enquanto que a sua "rival" Soto foi introduzida em 1227 pelo monge Dogen, que fundou o grande mosteiro de Eiheiji. Até aos nossos dias um pequeno número de comunidades Zen parece ter sobrevivido e pare­cem inclinar-se cada vez mais para o Zen Soto. Praticar o Zen é virtualmente praticar Za-Zen ("meditar sentado") ao que a escola Rinzai junta Sanzen (visitas periódicas ao mestre ("Roshi")para lhe dar conta do modo como vê o Koan ).

Zen e as Artes

No Zen Japonês encontra-se uma prática que não se confina essencialmente no Za-zen, mas antes no tra­balho habitual do indivíduo como meio de meditação. Encontramo-lo em muitas outras áreas como a Cerimónia do Chá ("Cha no yu"), Tiro ao Arco, Desenho com pincel, tocar instrumentos musicais como a flauta e o Koto , ou ainda a prática de Ju-Jutsu, como meios para a prática do Zen.


A Dualidade

É um erro tomar o absurdo da escolha, da opinião generalizada de que a vida pode ir melhorando cada vez mais através de uma constante selecção do "Bom". Devemos começar por "apanhar" o tom da relatividade das coisas. O "Bom" e o "Mau", o agradável e o doloroso são tão inseparáveis, tão idênticos na sua dife­rença como os dois lados de uma moeda: "Puro é imundo. Imundo é puro. "

A dualidade do sujeito e objecto, de conhecimento e conhecido é considerada tão relativa, tão interligada e inseparável como qualquer outra.

O fogo não espera pelo sol para ser quente.
O vento não espera pela lua para ser frio.

O medir do valor e do êxito em termos de tempo e a insistente urgência de ter como certo um futuro prometedor tornam impossível viver livremente tanto no presente como no "prometedor" futuro, quando este nos chega. A dimensão temporal é relativista.
Por certo que um mosquito considera que os seus poucos dias representam um tempo de vida razoavel­mente longo. Uma tartaruga, com uma vida de várias centenas de anos, sentiria do seu ponto de vista, o mesmo que o mosquito.
Ainda não há muito que o tempo médio de vida de um homem era de 45 anos. Hoje dura entre 70 e 75 anos, mas subjectivamente , os anos correm mais depressa, e a morte quando chega, vem sempre cedo demais. Como disse Dogen:

Partem as flores quando nos dói perdê-las.
A erva daninha chega quando nos dói vê-la crescer.

Não se trata de uma filosofia do não olhar para onde se vai mas sim de uma filosofia do não dar tanta importância ao sítio para onde se vai: "Andar por andar", "sentar por sentar".
O Zen começa no ponto em que já nada existe para tentar alcançar, nenhum ganho a haver.

Na paisagem primaveril não há alto nem baixo
Os ramos floridos crescem naturalmente , uns longos , outros curtos.


Simplicidade nas acções e pensamentos


O perfeito Caminho (Tao) é sem dificuldade.
Uma diferença da espessura de um cabelo
E eis separados o Céu e a Terra !
Se queres alcançar a Verdade nua e crua
Não te preocupes com o certo e o errado.
O conflito entre os dois é a doença da mente.


Cada acção, cada acontecimento surge por si próprio:
Da superfície de um lago tranquilo salta subitamente um peixe.
Quando os seres humanos pensam com demasiado cuidado e minúcia acerca de uma atitude a tomar, raramente a conseguem tomar a tempo. Para pôr termo à ilusão, a mente deve deixar de agir sobre si pró­pria. Como expressa um poema Zenrin:

Sentado tranquilamente, nada fazendo,
A primavera chega e a erva , cresce por si própria.

A mente não pode agir sem abandonar o projecto impossível de se controlar para além de um determinado ponto. Deve libertar-se a si própria, seja no sentido de confiar na sua memória e reflexão , assim como no sentido de se mover espontaneamente em direcção ao desconhecido. É pois esta a razão pela qual o Zen parece tantas vezes tomar o partido da acção , contra a reflexão , e porque se designa a si próprio como "não-mente" ( Wu-hsin) ou "não-pensamento" (Wu-nien) , e ainda porque tantas vezes os mestres Zen respondem instantaneamente e fora de toda a premeditação às perguntas que lhe são dirigidas. Não é mais de uma maneira de dizer : "Ao agires age apenas". Vejamos um exemplo que demonstra bem essa atitude:

Um dia um discípulo perguntou a Ts'ui-wei o significado do Budismo . Respondeu-lhe o mestre: "Espera até que não esteja aqui mais ninguém e dir-to-ei". Algum tempo mais tarde, o monge aproximou-se de novo do seu mestre dizendo: " Já cá não está mais ninguém. Por favor responde-me.".
Ts'ui-wei conduziu-o ao jardim e dirigiu-se para o canavial de bambus, sem dizer uma palavra. O monge ainda não tinha compreendido ; por isso Ts'ui-wei acabou por lhe dizer: "Olha um bambu alto! Olha um curto! ".

O alcançar do satori é muitas vezes sugerido pelo antigo poema Chinês:

Monte Lu sob a chuva miúda , Rio Che na maré-alta.
Quando ainda não os tinha visto, era um constante de desejo!
Fui e voltei ... e não era nada de especial :
Monte Lu sob a chuva miúda ; Rio Che na maré-alta.

Para a mentalidade Zen a vida vazia e sem finalidade nada tem de deprimente. Pelo contrário sugere a liberdade das nuvens e dos rios na montanha, correndo sem destino, e também as flores que vicejam em lugares inacessíveis, belas mesmo que ninguém as veja , ou o vaivém do mar , lavando a areia sem nenhum propósito.

Se não acreditas, olha para Setembro , olha para Outubro !
As folhas amarelas caindo, caindo, a encher o rio e a montanha.
ou ainda: Ao entrar na floresta não agita uma erva
Ao entrar na água não faz uma só onda.
Ninguém repara nele porque ele não repara em si próprio.


A Posição do Corpo

É dada muita importância à posição corporal do Za-zen. O corpo é mantido direito, embora sem rigidez ; os olhos permanecem abertos de modo a que o seu olhar repouse no chão, poucos palmos adiante. A respiração é regulada até se tornar lenta e sem esforço, sendo a expiração mais longa do que a inspiração e vindo o seu impulso mais do ventre (abdómen) do que do peito: tem isto como efeito mudar o centro de gravidade do corpo, para o abdómen, de tal modo que toda a postura adquira um aspecto de firmeza, como se o corpo fizesse parte do próprio solo onde o praticante se senta. O principiante é aconselhado a acos­tumar-se à tranquilidade através do processo de contar as suas respirações de 1 até 10 , muitas vezes, até que a sensação de estar sentado "sem nada fazer" , se torne natural e sem esforço .

O Caminho do meio

Não devemos confundir os mestres Zen com os "Mahatmas" teosóficos. Os mestres Zen são perfeita­mente humanos. Adoecem e morrem; conhecem a alegria e a dor; têm mau-humor , ou qualquer outra perfeita "fraqueza" de carácter, tal como qualquer outra pessoa, e não são superiores nas suas paixões. A perfeição Zen está em ser-se simplesmente humano. A diferença entre o mestre Zen e o ser humano comum reside na luta que este último trava incessantemente contra si próprio e a própria humanidade, procurando ser anjo ou demónio. Diz uma célebre frase de Ikkyu:

Os Anjos e os Demónios ocupam as posições mais alta e mais baixa, as posições da perfeita
felicidade e da perfeita frustração. Estas posições estão nos pólos opostos de um círculo
porque conduzem uma á outra. Não representam literalmente seres , mas os nossos próprios
ideais e terrores dados que a roda da vida( das "reencarnações") é na realidade a nossa mente.
A posição do homem reside no meio.

No zen o homem não tem a mente separada entre aquilo que conhece e vê:

A longa noite.
O som da água diz aquilo que penso.

Um comentário:

Anônimo disse...

adorei. mas não consegui achar uma pequena duvida minha.
como é decidido o adversário numa competição.
Peso ? faixa ?